JORNALISTA
UM
CERTO SENHOR FREITAS.
Uma figura esguia, respeitável, trajando roupas
escuras, as mais das vezes. Parecia personagem saída das páginas de livros de
Charles Dickens ou de Eça de Queiroz. Fazia sentido. Afinal, ele descendia de
família portuguesa, cujos usos e costumes, bem assimilados, reproduziam em
Taubaté. Era assim o senhor Freitas, funcionário aposentado da antiga Estrada de
Ferro Central do Brasil e proprietário de uma pequena chácara na Rua Francisco
Eugênio de Toledo (antiga Avenida nº 1), com fundos para a Avenida Três Meninas
(antiga Avenida nº 2) e ladeada, à esquerda, pela Rua Edmundo Morewood, e à
direita, com pequeno grupo de casas que faziam frente para a atual Avenida
Charles Schneider, na época, até 1951, leito da antiga Estrada de Rodagem São
Paulo-Rio.
Nos anos 30 do século passado, quando o conheci, o senhor Freitas cuidava da chácara e da família com o maior carinho. Diziam que ele às vezes chegava até ao exagero para manter a disciplina. Os muros da chácara eram de taipa e muito bem vigiados. Um apelo vigoroso, feito aos arquivos de uma memória desgastada pela passagem de muitas décadas, traz de volta pálidos contornos de um tempo bucólico, bem diferente das correrias deste século 21. Retirada a mortalha do tempo, volto a deparar com a figura esquia do senhor Freitas no cultivo das frutas e hortaliças que preenchiam o vazio da existência do velho ferroviário aposentado. Do seu clã, que não era tão pequeno, tenho algumas lembranças de seus filhos Amantino, Neco, Maria, Paulo, João e Antoninho. O filho mais velho, Amantino, era identificado pela sua “pinta de galã” muito cobiçado pelas moças trabalhadoras da CTI nas idas e vindas diárias do batente, quando necessariamente passavam diante da propriedade dos Freitas. O assédio, porém, era inútil, até porque o “príncipe encantado”, ao invés de aceder, tomava razoável distância das fãs proletárias.
O Manoel, o Neco para os mais íntimos, era ajuizado, circunspecto e sempre consciente do respeito que lhe devotavam os irmãos e amigos da vizinhança. Antoninho tinha um bom caráter e sua figura esguia representava segurança, proteção e amizade para toda a garotada do bairro. Tenho lembranças do Paulo e do João Freitas – lembranças que se alternam com recordações das laranjas, mangas e cajus da chácara. Por último, com respeito e saudade, falo de Maria Freitas, sempre zelosa com a família, zelosa e protetora, sem perda da simpatia e da consideração. Volto a falar do velho Freitas, o amigo e freguês do seu Pedro Lemes, dono do armazém “O Sol nasce para todos”, que ficava na antiga Rua da Estiva, hoje Rua Isaltina Ribeiro. Dava gosto vê-los discutir, às vezes acirradamente, sobre custo e preço dos alimentos.
Nos anos 30 do século passado, quando o conheci, o senhor Freitas cuidava da chácara e da família com o maior carinho. Diziam que ele às vezes chegava até ao exagero para manter a disciplina. Os muros da chácara eram de taipa e muito bem vigiados. Um apelo vigoroso, feito aos arquivos de uma memória desgastada pela passagem de muitas décadas, traz de volta pálidos contornos de um tempo bucólico, bem diferente das correrias deste século 21. Retirada a mortalha do tempo, volto a deparar com a figura esquia do senhor Freitas no cultivo das frutas e hortaliças que preenchiam o vazio da existência do velho ferroviário aposentado. Do seu clã, que não era tão pequeno, tenho algumas lembranças de seus filhos Amantino, Neco, Maria, Paulo, João e Antoninho. O filho mais velho, Amantino, era identificado pela sua “pinta de galã” muito cobiçado pelas moças trabalhadoras da CTI nas idas e vindas diárias do batente, quando necessariamente passavam diante da propriedade dos Freitas. O assédio, porém, era inútil, até porque o “príncipe encantado”, ao invés de aceder, tomava razoável distância das fãs proletárias.
O Manoel, o Neco para os mais íntimos, era ajuizado, circunspecto e sempre consciente do respeito que lhe devotavam os irmãos e amigos da vizinhança. Antoninho tinha um bom caráter e sua figura esguia representava segurança, proteção e amizade para toda a garotada do bairro. Tenho lembranças do Paulo e do João Freitas – lembranças que se alternam com recordações das laranjas, mangas e cajus da chácara. Por último, com respeito e saudade, falo de Maria Freitas, sempre zelosa com a família, zelosa e protetora, sem perda da simpatia e da consideração. Volto a falar do velho Freitas, o amigo e freguês do seu Pedro Lemes, dono do armazém “O Sol nasce para todos”, que ficava na antiga Rua da Estiva, hoje Rua Isaltina Ribeiro. Dava gosto vê-los discutir, às vezes acirradamente, sobre custo e preço dos alimentos.
Taubaté,
21 de novembro de 2012.
Nota: Este depoimento do jornalista Levy Bretterick atendeu a um pedido formulado por este professor, acerca das origens de minha família, os Costa Ferreira. Graças ao seu persistente garimpo de uma memória de quase nove décadas, foi possível transportar das lembranças infindas e oportunas um pouco do resgate histórico da Família Costa Ferreira. Receba, Levy nossa eterna gratidão.
UMA VIDA DE PRINCÍPIOS.
21 de novembro de 2012! Nesse dia em que comemorou
seus oitenta e oito anos de vida, Levy Breterick teve motivos de sobra para
festejá-lo. Cidadão honrado e respeitado por todos, pai extremado, ótimo
marido, jornalista capaz como poucos. Conheci-o na década de 70, porém, é da
década de 30 seu relacionamento com minha família, os Costa Ferreira. Levy é daqueles
amigos difíceis de encontrar. Inteligente, perspicaz, dotado de uma bondade
infinita, companheiro nas horas de difíceis soluções.
Os oitenta e oito anos dedicados a Taubaté, não serão possíveis
pronunciá-los como deveriam sê-los, pois, sempre se omitirão alguns de seus
contributos à nossa gente. Portanto, é melhor deixar que a consciência de cada
cidadão taubateano se deixe manifestar e que o tempo, julgador imperecível de
todas as coisas se encarregue de inseri-lo no rol dos grandes nomes de nossa
imprensa. Deixo, entretanto, aqui nesta oportuna lembrança natalícia, todo meu
respeito ao homem, toda minha admiração ao jornalista competente que é, todo o
agradecimento pelo muito que fez pela Taubaté querida e pelo amor que soube
distribuir, como poucos, a todos que lhe foram caros.
Receba Levy, nesta passagem de mais uma primavera, muita felicidade, muita
saúde e muita paz nesse coração maravilhoso. Deus o abençoe.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.