No
dia 12 de outubro de 1931, uma segunda feira da primavera brasileira, a
pequena localidade de Fama, ainda Distrito de Paraguaçu e localizada no
sul do Estado de Minas Gerais, dava as boas vindas ao seu mais novo
habitante. Nascia José da Silveira, filho de Bartolomeu da Silveira e de
Alzira Bruno da Silveira.
Seu pai, um competente alfaiate, de conduta ilibada e pessoa muito
querida por todos, era o sustentáculo daquela família. Como fato
curioso, por ter seu filho nascido no dia e mês do Descobrimento da
América, entendera por bem homenagear essa data histórica atribuindo-lhe
o nome de José Américo da Silveira. Entretanto, por um lapso, o nome de
registro daquela criança saíra José da Silveira. Como não fora possível
registrá-la como era o pretendido, o nome de Américo permaneceu durante
sua vida, cognominando-se como Zé Américo.
Mais tarde sua família mudou-se para a cidade de Lorena, no Vale do
Paraíba Paulista. Ali iniciou seus estudos no Grupo Escolar Conde
Moreira Lima, encerrando-os após conclusão do 4º ano primário. Zé
Américo teve uma infância como todas as crianças de sua época, com muita
alegria, com muito respeito para com os mais velhos e, principalmente,
com muito amor e carinho de seus pais. Entretanto, o futebol começava a
entrar em sua vida e desenhar toda uma trajetória de sucesso
futebolístico. Depois da conclusão de seus estudos passou a frequentar o
tradicional Colégio São Joaquim, então, importante Órgão de Ensino
voltado para as vocações religiosas e particularmente à vida religiosa
Salesiana, mas que, ao final da década de 40, reabriria suas atividades
voltadas para o aluno comum.
Com
essa medida, reabririam também seus portões todas as tardes para o
entretenimento desportivo. Eram as famosas "peladas" e Zé Américo, então
com pouco mais de quinze anos e não estando matriculado regularmente,
ainda assim participava com os alunos, das atividades praticadas.
Despertando a atenção dos “olheiros da época”, pouco tempo depois
iniciaria suas atividades futebolísticas no Hepacaré de Lorena,
defendendo esse clube de 1947 a 1950. Com o Serviço Militar obrigatório
apresentou-se no 5º Regimento de Infantaria onde cumpriu com seu dever
cívico e patriótico.
Após, transferiu-se para a Esportiva de
Guaratinguetá, lá permanecendo até 1953.
Em virtude de ter a “Vermelhinha” como era chamado aquele clube de
Guaratinguetá-SP, desistido de disputar o Campeonato Paulista da
2ª Divisão, em 1954, resolveu transferir-se para outra agremiação. No
início desse mesmo ano, sua mãe o chamou e lhe disse: “Zé, veio um
homem aqui em casa e queria falar com você”. No mesmo dia esse homem
reaparecia para falar-lhe. Era Joaquim de Morais Filho, Presidente do
Esporte Clube Taubaté e que ao chegar a sua casa lhe disse: “Zé Américo,
vim buscar você para jogar no E.C. Taubaté. Vamos embora comigo”. E Zé
Américo, naquele preciso instante despedindo-se de sua família, foi para
Taubaté, importante centro industrial do Vale do Paraíba Paulista para
enfrentar o maior desafio de sua vida: disputar a 2ª Divisão de
Profissionais e subir para a Primeira Divisão do Campeonato Paulista de
Futebol. E
dessa forma, aquele rapaz de caráter introvertido, apresentou-se ao seu
novo clube para disputar o Campeonato Paulista de Acesso de 1953,
entretanto, não conseguindo o tão almejado acesso.
Contou-me Zé Américo que no início de 1954, todo o plantel profissional
se reuniu no Campo do Esporte Clube Taubaté, no velho Campo do Bosque,
e, na presença daquele mesmo dirigente que outrora fora buscá-lo em
Lorena, expôs a todos seus pensamentos, advertindo-os de maneira pouco
amistosa e rude: “Ou nós ganhamos esse campeonato e subimos ou então
vocês estarão desempregados e no olho da rua”. Não deu outra. Com essa
“injeção de ânimo ameaçadora” o Esporte Clube Taubaté se sagraria
Campeão Paulista da Divisão de Acesso e disputaria o Campeonato Paulista
de 1955 ao lado dos grandes clubes de São Paulo.
Em
Taubaté, Zé Américo se ambientaria rapidamente, tanto pelo caráter
reservado de que sempre fora possuidor, quanto pelo carinho demonstrado
pelos torcedores do Alvi Azul. Também em Taubaté viria a constituir sua
família em 27 de janeiro de 1955, data em que contrairia matrimônio com
Eunice Marcondes, conforme consta de sua Certidão de Casamento sob nº
4826, Folhas 26, Livro B-32, tendo a contraente passado a chamar-se
Eunice Marcondes da Silveira. Sua esposa foi uma dedicada funcionária do
Hospital Santa Isabel de Taubaté, tendo se aposentado em 1974. Tiveram
quatro filhos, Antonio Fernando da Silveira, Gino da Silveira, João
Carlos da Silveira e Elaine da Silveira, os quais lhes presentearam com
oito lindos netinhos.
UM CASAL FELIZ.
Zé Américo defendeu o Esporte Clube Taubaté de 1953 a 1962 vivendo
páginas de glórias em sua vida, como ele mesmo se recorda quando do jogo
entre E.C. Taubaté e Santos Futebol Clube, realizado no dia 05 de
outubro de 1958. Naquela ocasião Aimoré Moreira, técnico do Taubaté,
durante a palestra com os jogadores nos vestiários, chamou-o e lhe
disse: "...você vai jogar com a camisa 7 e vai marcar Zito, porque a
força do Santos está no meio campo". Ao final daquela partida não
dera nenhuma chance nem a Zito, bem como fora o autor de dois gols do
E.C. Taubaté. Também viveu momentos de tristezas e decepções, como o
fatídico rebaixamento em 1962. Depois atuou pelo São Bento de Sorocaba e
pelo Barra Mansa do Rio de Janeiro.
Gardel, Mexicano, Ivan, Henrique, Celso e Martin;
Jorge Coutinho, Darci, Zé Américo, Sabará, Miro e Noca.
Posteriormente, transferiu-se para o arqui rival do Burro da Central, o
Esporte Clube São José, clube onde fez sua estreia num amistoso contra o
Corinthians e que terminaria empatado em 3 a 3. Naquela oportunidade
assim constavam os dados da partida:
Data: 21/04/1964 (Feriado Nacional). Local: Estádio Martins Pereira (antigo estádio situado na Rua Antonio Saes). Jogo amistoso de inauguração dos refletores. Renda: Cr$6.250.000,00. Árbitro: Carlos Drumond da Costa. Gols do 1º Tempo: Ferretti (aos 7), Marcos (aos 11), Ferretti (aos 30) e Geraldo (aos 39); Gols do 2º Tempo: Flávio (aos 2) e Ferretti (aos 27).
Esporte Clube São José:
Gallo; Adhemar Alves, Alemão e Can Can; Carlinhos e Dias (Zé Américo);
Bolacha, Ferretti, Zé Luiz (Adaílson), Marinho e Valdir. Técnico Diede
José Gomes Lameiro.
Sport Club Corinthians Paulista:
Heitor, Jorge, Daut (Cláudio) e Edson; Dino Sani (Amaro) e Clóvis;
Marcos, Rivelino, Flávio, Nei (Bazzani) e Geraldo. Técnico: Oswaldo
Brandão.
Em
1965 sagrou-se campeão da 2ª Divisão de Profissionais e com direito de
disputar o Campeonato Paulista da Primeira Divisão do mesmo ano, bem
como viu nascer dois grandes goleiros do Brasil, Sérgio Valentin o “São
Sérgio” e Emerson Leão, atuando ao lado de ambos nos anos de 1965 e
1966. Nesse clube teve a glória de ser considerado o “4 de ouro”, pois,
foi o ponto de equilíbrio do time e que garantiria o acesso naquele ano.
Depois de encerrada a carreira futebolística, prestou concurso público
para o Fórum de Taubaté, sendo aprovado em todos os exames escritos e
orais a que foi submetido, entretanto, ficou retido quando dos exames
médicos sendo constatado ser possuidor de “pressão alta”.
Coisas do destino, pois, atuara como jogador de futebol profissional
por vinte anos e nunca sentira nada.
Porém, aquele velho amigo e antigo
dirigente que um dia do início do ano de 1953 lhe abriu as portas para o
sucesso, mais uma vez não o deixaria desempregado. Zé Américo passaria a
trabalhar no Cartório de Registro Civil de propriedade daquele
dirigente por vários anos.
Hoje, prestes a completar 82 anos de idade, Zé Américo vive sua vida de
maneira tranquila na cidade de Taubaté, onde reside à Rua Falcão Filho
nº 29, na Vila Edmundo em Taubaté-SP, bem ao lado do Estádio Joaquim de
Morais Filho. Apesar dos problemas clínicos enfrentados por sua esposa
Eunice, a qual é portadora do Mal de Alzheimer e do Mal de Parkinson.
Zé
Américo é um homem tranquilo e feliz, com um coração do tamanho de sua
bondade infinita, respeitador, leal, aquele grande e importante amigo e
que dificilmente encontramos nos dias de hoje, palmeirense bem ao estilo
do verdão antigo, sempre vivendo rodeado de pessoas queridas, e o mais
importante, contando com a ternura de seus familiares e as bênçãos do
Todo-poderoso. Seja sempre feliz, Zé Américo. São os desejos de todos aqueles que lhe querem bem.
PROFº
GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
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