quarta-feira, 21 de agosto de 2013

JOÃO MELLÃO NETO - (33)





EMPRESÁRIO, JORNALISTA E POLÍTICO









MÁRTIRES DA LUTA DO BEM CONTRA O MAL.


Uma salva de tiros, um toque de clarim, e o esquife desceu à terra. Estava lacrado, indicando que aquele corpo fora severamente mutilado. Era toda uma vida que se interrompia, barbaramente, naquele instante. A pungente cena se repetiria dezenas de vezes por toda a cidade. Aquele Dia das Mães jamais será olvidado. Foi o dia em que numerosas mães, atônitas, perplexas, desconsoladas, se despediram para sempre dos seus filhos. A autoridade presente, o representante da Secretaria da Segurança Pública, mal conseguia esconder a sua comoção e o seu constrangimento. O que dizer àquelas famílias? Àquelas mães. àquelas esposas ainda jovens, rodeadas por seus filhos crianças, agora órfãos, na vã expectativa de minorar o seu sofrimento? Reiterar-lhes que aquele que partia fora um herói? Que sacrificara a própria vida por um grande ideal? Não. Ele sabia de antemão que a dor maior não se exprime em palavras. Pouco ou nada falou. Abraçou apertadamente todos os familiares da vítima e, com os olhos marejados, retirou-se do local. Ainda haveria, naquele dia, de repetir o seu gesto muitas vezes mais. Mais uma salva de tiros, mais um toque de clarim, e assim, naquele domingo, em vários campos santos diferentes, ele se faria presente, homenageando os mártires daquele que seria marcado para sempre como o "dia da infâmia".

Policiais, eu não canso de dizer, não são cidadãos comuns. Nós, os paisanos, não arriscamos nossa vida em troca de medalhas ou apenas de mero reconhecimento. Somente os heróis o fazem, e muitos, ao tombarem, nem sequer levam consigo a láurea do seu mérito. São os mártires, anônimos, da eterna e incessante luta do bem contra o mal. Vivos, são vistos com antipatia. Quando morrem - quase sempre ainda jovem - são logo esquecidos. Bastam-lhes o clarim, a carga de espoleta e a honra de ter o seu ataúde coberto pela bandeira da Corporação. Quando criança eu sonhava ser policial. Mas logo oportunidades mais tentadoras foram surgindo em minha vida. Quando me deparo nas ruas com agentes da lei fardados, logo me ocorre o pensamento: são aquelas crianças que não abandonaram o sonho. Eles são tudo aquilo que sonhei na minha infância e que, adulto, não me aventurei a ser. São altivos, altaneiros e carregam na farda o seu orgulho de ser. O senso de missão, a coragem, o dever e, sobretudo a honra, são valores que lhes são incutidos, profundamente, desde o primeiro dia de treinamento.

Honra. Nós civis, há muito já nos esquecemos do verdadeiro sentido dessa palavra. E, no entanto, para os policiais, é nela que se traduz todo o seu sentido de vida. É desnecessário relatar aqui todos os covardes episódios que marcaram o fim de semana em São Paulo. Importante, isso sim, é registrar que, apesar de tudo, as nossas polícias - a Militar e a Civil - em momento algum se acovardaram. "Multiplicando por mil e hum os centro e trinta de trinta de 31", reza o hino da Polícia Militar, fazendo alusão aos seus primeiros soldados. Pois os PMs fizeram jus à canção. Desdobraram-se, multiplicaram-se e, após dois dias de enfrentamento, lograram virar a batalha. Causaram severas baixas ao inmigo e trouxeram a paz novamente a São Paulo. Segundo pesquisas, os cidadãos comuns, como sempre, não reconheceram o hercúleo trabalho de nossas polícias. Infelizmente, só quem acompanhou de perto a evolução dos acontecimentos pode aquilatar a grandeza do que ocorreu.

Muitos não entenderam porque o Governo do Estado recusou de pronto o auxílio federal. São aqueles que desconhecem o poderio e os brios da Polícia Militar de São Paulo. Com 94 mil homens, ela é, de longe, o maior, o melhor e o mais aparelhado aparato de segurança pública do Brasil. O mesmo ocorre com a Polícia Civil. A presença, em São Paulo, da Força Nacional de Segurança, com apenas 4 mil soldados, além de inócua, seria extremamente nociva ao moral das nossas tropas. A PM de São Paulo é orgulhosa. Seria uma humilhação pedir socorro a quem quer que seja. Após um primeiro dia de perplexidade, as forças policiais civis e militares, se arregimentaram, se articularam e partiram coesas para a contra-ofensiva. Nada de medo, receio ou covardia. Jamais se viu a polícia agir com tamanha garra, tenacidade e determinação. Exemplo disso foi a atitude dos soldados da Rota que, na noite de domingo, se recusaram a render guarda para o turno seguinte. Apesar de extenuados, eles pretendiam cumprir mais 12 horas de rondas, "até que o último bandido fosse enfrentado". Ao "dia da infâmia" se seguiu uma das mais ferozes batalhas que as forças policiais de São Paulo já empreenderam. Honra. Esta é palavra-chave para compreender a dimensão do que ocorreu. A honra da PM e da Polícia Civil foi atingida. E cada oficial, cada soldado, cada agente, todos se sentiram igualmente feridos em seus brios. Urgia resgatar a autoridade da instituição. E todos se esforçaram além de seus limites físicos para recobrá-la. 

Lei e ordem, para alguns, não passam de um binômio reacionário. Não é verdade. É justamente sobre esses dois alicerces que se lastreiam todas as sociedades que se pretendem civilizadas. Não há democracia que sobreviva sem o império da lei. Não há progresso que se sustente sem a imposição da ordem. A lei e a ordem foram restauradas. E, assim, mais uma página heroica foi escrita no começo desta semana. Parabéns, policiais, vocês cumpriram o seu dever! Para descrever o momento não há palavras mais pungentes do que as de Abrahan Lincoln, no ainda fumegante campo de batalha de Gettysburg: "(...) Que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses bravos homens não morreram em vão: que esta nação, com a graça de Deus, venha a gerar uma nova liberdade; e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da Terra." Deus os abençoe...



Nota: Texto de João Mellão Neto. Título: "Uma Questão de Honra - II" de 19/05/2006. 


PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA – HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.

cfgilberto@yahoo.com.br

 


 




 


MARIA DE FREITAS FERREIRA - (32)





BENFEITORA



UMA VIDA VOLTADA PARA O BEM.

Maria de Freitas Ferreira nasceu em Taubaté aos 02 de março de 1913, sendo filha de Manoel de Oliveira Freitas e Cândida Cortez de Freitas. Seu pai era funcionário público federal, oriundo de Itaguaí-RJ e proprietário de uma chácara na Vila Edmundo, onde nascera, bairro esse localizado próximo ao Bairro da Estiva. Ali tudo se produzia, mas as frutas eram as que mais se comercializavam devido suas qualidades e variedades. Maria, com sempre fora chamada, vinha de uma família numerosa, pais e nove irmãos. Desde os seis anos de idade já trabalhava em casa, ora ajudando seus pais nos negócios, ora cuidando da chácara. Como muitos a tratavam, era a menininha delicada e atenciosa que atendia ao portão quando os procuravam para comprar frutas. Foi uma órfã da epidemia, quando no final do segundo semestre de 1918 a Gripe Espanhola assolava todo o país, possivelmente proveniente do navio inglês “Demeara” ou então de um time de futebol amador do Rio de Janeiro que havia visitado São Paulo, sendo sua mãe uma das vítimas e, dessa forma, ocorrido seu falecimento em 19/09/1919 e grávida de oito meses e meio.
Sua formação de filha exemplar continuava para dentro da escola e no trato com coleguinhas e professores. Estudava e trabalhava, dedicando-se sobremaneira no respeito aos mais velhos e na compaixão para com os mais necessitados, fatos marcantes em toda sua existência. Com a morte de sua mãe, Maria precisou cuidar dos irmãos menores, Antônio, fruto de um relacionamento com Maria Zulmira da Conceição,  Gabriela, João, Paulo e Virgínia, frutos do terceiro matrimônio de seu pai com Maria Ignácia da Mota Freitas, a Zila, como carinhosamente era chamada. Também convivia com o problema relacionado à sua irmã Aurivina, a qual sofria de distúrbios mentais. Em 1938 conhece aquele que seria seu futuro marido, Garcílio, e após alguns poucos meses de namoro e noivado, contrai matrimônio. A partir de então tem início sua dura e difícil caminhada.
Seu marido, policial da Força Pública é aprovado em concurso e transferido para outras Unidades, vindo com isso a acompanhá-lo durante toda sua vida de caserna em várias cidades por motivo de transferência, tais como São Paulo, Jacareí, Caraguatatuba, Cunha, Taubaté, Tremembé, dentre outras. Acompanhou seu marido por toda a parte, mas durante as ausências prolongadas criou seus nove filhos da maneira que somente uma mãe seria capaz de criar. É verdade também que três desses filhos ficaram há muitos anos à beira da estrada, como nordestinos que deixam seus filhos mortos e insepultos,  na retirada ante o flagelo da seca. Em meados de agosto de 1954 fixa residência em Taubaté, mais precisamente na Rua José Pedro da Cunha, nº 239, próxima ao Mercado Municipal. Ali conquistaria a todos com sua benevolência e amor ao próximo, fazendo da caridade sua maior felicidade. Mesmo sem conhecer sua profunda doutrina, costumava sempre parafrasear Santo Agostinho ao dizer sempre que “quem tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar”, ou então, “A caridade que ama o próximo é a mesma que ama a Deus”.
A todos os pobres, sem distinção, tratava-os com um incomensurável amor e sempre com o conforto de um abraço fraterno e de uma mão amiga. Maria faleceu com 83 anos de idade em 1º de novembro de 1996, justamente no Dia de Todos os Santos. Está sepultada no Cemitério Municipal de Taubaté, no Jazigo Perpétuo da Família Freitas, juntamente com sua mãe e irmãos. Como homenagem póstuma, através de Lei Municipal nº 4734, de 11 de dezembro de 2012, teve reconhecida sua prestatividade como munícipe, ao ter como agradecimento do povo taubateano, inscrito seu nome em uma das ruas de Taubaté-SP, a atual Rua "F" localizada no Loteamento Vista Alegre, Bairro do Bonfim, passando a denominar-se "Rua Maria de Freitas Ferreira - Benfeitora". Requiescat in pace, Alma generosa!.




PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO. 
cfgilberto@yahoo.com.br


EGÍDIO ANTONIO CELANO - (31)




EMPRESÁRIO



UMA NOVA PÁTRIA





Egídio Antonio Celano nasceu na comunidade de Latrônico, Província de Potenza, na Itália aos 11 de junho de 1931, sendo filho de Vincenzo Domênico e de Maddalena Gaudioso. Nessa época o mundo ainda vivia, num passado recente, dos fragmentos do pós Primeira Guerra Mundial a partir de 1917 e das consequências desastrosas da Queda da Bolsa de Nova York em 1929, quando teve importantes repercussões internacionais. Foram tempos difíceis, seguidos com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha invadindo a Tchecoslováquia em 01 de setembro de 1939. Seus pais, enfrentando todas as adversidades passadas nos momentos de horror de um conflito mundial e receosos de uma 3ª Guerra Mundial, resolvem deixar a terra natal em busca de paz e de esperança.
A região pretendida seria a América do Sul e o país escolhido seria o Brasil, terra bendita que, outrora, recebera outros patrícios. Desembarcando no Brasil em meados de 1950 a bordo de um navio cargueiro e depois de vários dias de uma viagem que parecia interminável, aportaram e fixaram residência no Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde ali residiam alguns patrícios. Egídio, alfaiate de profissão, logo passou a exercê-la. Não demorou muito e logo foi juntar-se aos seus primos Egídio e Vincenzo Gaudioso, na cidade de Cruzeiro/SP, sendo o primeiro, também alfaiate e o segundo, proprietário de um pequeno comércio. Em 21 de setembro de 1957 contrai matrimônio com Stella Gaudioso advindo dessa união os filhos José Vicente e Rosa Maria. Nessa cidade permanece até 1958, quando então se muda para Núcleo Bandeirante, futura cidade satélite do Distrito Federal para a continuidade da profissão de alfaiate.  Em 1969, com seus primos residentes em Taubaté, recebe o convite para aqui trabalhar em companhia dos mesmos na Marchantaria do Vale, um conceituado frigorífico.
Gigio, como carinhosamente era chamado, com sua bondade infinita e sua simplicidade que lhe eram peculiares, angariou a simpatia de todos que o cercava. Vivia pela família e em função dela. Depois de alguns anos de um trabalho profícuo, de uma abnegação digna de ser seguida e aliado ao fato do encerramento das atividades da empresa, decide assumir por conta própria o mesmo ramo que anteriormente exercera, passando a ser o distribuidor de carnes para todos os restaurantes da Rodovia Presidente Dutra, no trecho compreendido entre Jacareí e Cruzeiro. Apesar de ser uma pequena empresa com apenas seis funcionários, contribuía para o progresso da cidade que adotara como seu berço definitivo e seu rincão querido.

Após toda essa trajetória, adquire a Distribuidora de Ferragens Potenza situada na Rua Dr. Jorge Winther, para que seu filho Vicente, a administrasse. Tempos mais tarde, desativando sua distribuidora de carnes, passa a figurar na direção na empresa junto com seu filho. Também ali, após expansão da empresa e mudança da mesma para a Avenida Independência, continuou contribuindo para com o engrandecimento da cidade como sendo a mais completa loja de ferragens do Vale do Paraíba, agora com um respeitável quadro composto de trinta funcionários. Deixou um legado de toda sua vida quando procurou fazer de seu semelhante, seu próximo, externando carinho, compreensão e muito amor. Os sentimentos que ele em vida transmitira a quem o procurava para a solução dos problemas apresentados, jamais serão esquecidos. Seu falecimento, ocorrido no dia 12 de junho de 2005 consternou a todos os que lhe eram caros. Está sepultado no Jazigo da Família Celano no Cemitério Parque das Paineiras, em Tremembé/SP. Como homenagem póstuma, através da Lei Municipal nº 4733, de 11 de dezembro de 2012, seu nome foi atribuído em uma das vias públicas de Taubaté, a atual Rua "C" localizada no Residencial Vista Alegre, Bairro do Bonfim, com a denominação de Rua Egídio Antonio Celano - Cidadão Prestante.
Requiescat in pace, Imigrante Italiano!


PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br