quarta-feira, 30 de outubro de 2013

JAIRO LOPES SILVA - (51)





                         

                        


UMA FAMÍLIA, UM ADEUS E UMA PRAÇA MAIS TRISTE.




Sua família, os Lopes Silva àquela época, agosto de 1954, já era bastante numerosa. Seus pais, Sr. José e dona Laurita, pessoas maravilhosas que o tempo se encarregou de deixá-los entre nós como verdadeiros amigos e vizinhos, reporta-nos a uma Taubaté bucólica, com presença marcante de carros de bois por nossas ruas e meia dúzia de táxi, comumente conhecidos e chamados por carros de praças, estacionados na Praça Dom Epaminondas à espera de algum serviço. Naqueles tempos tudo era muito simples e bonito. O leiteiro com sua carroça vendendo seus produtos em latões e o freguês com sua panela de alumínio a recebê-lo. Verduras e legumes eram plantados nos quintais e galinhas e patas anunciavam todos os dias, a garantia de uma boa mistura para o almoço com seus ovos. Mudamos de Tremembé para a Taubaté no início daquela manhã e do fatídico dia em que ocorria o suicídio do Presidente Getúlio Dornelles Vargas, 24 de agosto de 1954. Lembro-me bem daquela data, uma tristeza sem fim, uma comoção nacional. Também naquele dia era oficializada a aposentadoria de papai, e ali, na Vila José Pedro da Cunha e na rua do mesmo nome, seria nossa residência por muitos anos. Morávamos há poucos metros da Rodovia Presidente Dutra e no começo foi difícil nossa adaptação tendo em vista o ronco dos motores como que anunciando o desenvolvimento do progresso e o surgimento da indústria automobilística em nosso país. Mas, aos poucos, tudo foi se ajeitando e logo depararíamos com a construção do Ginásio do Estado, o nosso querido e sempre lembrado Estadão. 
Os vizinhos logo começaram a se formar, como as famílias de José e Laurita, Juvenal e Maria, Ernesto e Epidaura, Alberto, Adalgisa e Totinha, Maurílio e Fortunata, Pedro Cunha e Hortência, José Rovida e Maria, Maria Gobo, José e Irene, Cardoso e Jacira, Antonio e Benedita, Elizeu e Henriqueta, Marioto e Joana, Sadalla Abraahão e Elza, Maria Japoneza, Waldomiro e Rita, e tantas outras pessoas que nos trazem lembranças indeléveis. Os amiguinhos também começariam a fazer parte de nossas vidas, Jairo, Zezinho, Benedito, Juarez, Altair, Jairo Vinhas, Afonso, Zé Pedrinho, Jonas, Oswaldão, Mauro, Rossi, Carlos, Rubens, Eduardo, Toninho, Osvaldo, Mauro, Celso, Carlinhos, Nê, Roberto, Tomaz Edson, Dito, Estevão, Ditão, Zé Carlos Abrahão, Itaci, Cuca  e muitos outros que se fosse citá-los não caberia nesta memória oportuna. 
Outros, já adultos, também fazem parte das lembranças de nossas memórias, como Osmar, Itamar, Ditinho, Luizinho Portela, Naná, Abrahão, Caetano, Silvio, Valêncio, Pérsio, Carreiro, Didi, Paulo,  Cilinho, Dudu e tantos outros. Muitos ficaram para trás, pelos caminhos da vida. Outros, com a Graça Divina, nos enchem de regozijo e de saudades de um tempo que só teima em povoar nossas mentes, num passado maravilhoso que não voltará jamais. Mas, ficaram as lembranças, como as de Jairo, filho do casal José Lopes e Laurita, nascido em Taubaté-SP aos 25 de outubro de 1947, um sábado da primavera brasileira, a quem me reportei no início, citando-o como meu primeiro amiguinho. Jairo era aquele colega inseparável no futebol, na escola, nas brincadeiras de rua, no quintal da frente de sua casa ou ainda num lote de terreno na esquina de sua casa improvisado que era como "campo de futebol". O terreno era inclinado e quem ganhasse o "par ou ímpar" se não bastasse escolher os melhores, escolhia também "atacar" para baixo. Tudo era alegria.  Alguns anos depois naquele "pedaço de saudade eterna" chamado campo de futebol se edificaria a casa da Família Abrahão. Jairo, com seus irmãos, José, Maria Aparecida, Benedito, Joel, Josué, Juarez, Angelina, Jefit, Laurita, Jair, Marhor, Silvia e Silvio completavam o cenário de uma família unida e muito feliz. Seu pai, José Lopes, era um competente funcionário do SAPS e depois da Secretaria do Trabalho em Taubaté. Pessoa da mais digna retidão, honrado, ótimo vizinho, pai e marido exemplar. Uma família composta de quatorze filhos, um homem voltado para o bem e um educador na acepção do termo. Lembro-me do horário do almoço em sua casa onde todos se lhe acercavam e rezavam naquele momento mágico e sagrado, agradecendo aos céus pela comida ofertada na mesa. Dona Laurita, uma mulher voltada para o lar e mãe extremosa, era o exemplo de uma esposa dedicada a uma família feliz. Quantas noites, enquanto todos dormiam no sono reparador, ela velava em silêncio os filhos queridos e abençoados! Ah, dona Laurita! Mulheres como a senhora, afrontam as adversidades da vida, ficam acima da humanidade e dignificam o mundo. 

O viver da nossa infância foi uma bendita e pródiga passagem em nossas vidas. Época da malhação de Judas Scariotes, dos balões que fabricávamos, das bolinhas de gude, do pula-pula, do risca faca, do empinar do papavento, das matinês aos domingos onde o mocinho nunca morria, das fogueiras de Santo Antonio, São João e São Pedro, dos natais maravilhosos à espera do presentinho do tão esperado Papai Noel a ser colocado dentro do sapatinho sobre a janela, quase sempre um carrinho de madeira ou uma bola de futebol, dos desfiles de 7 de setembro onde a fanfarra do Estadão saía às 06.00 horas  do próprio ginásio e, garbosamente, tendo à frente seu grande expoente, Abrahão, filho do Sr. Sadalla, iniciava o desfile  se dirigindo em marcha para o local de apresentação no centro de Taubaté. Ah, tempos de outrora! Com o passar dos anos e o inevitável destino de cada um, nos distanciamos um pouco. Casei-me antes dele e ingressei na Força Pública, atual Polícia Militar. Pouco tempo depois, Jairo seguiria a mesma trajetória, porém, ingressando no Serviço Penitenciário do Estado. Passaram-se mais anos e começaram as despedidas inesperadas e tristes com a perda de nossos pais. Era aquele negócio, olá, tudo bem? Como está sua família? E seus irmãos? Reflexos de um progresso abrupto e enganoso, dilacerador de amizades e da convivência diária Jairo não conseguiria aposentar-se do Serviço Público em razão de optar por outras atividades, trabalhando muitas vezes sem registro. Mas era uma pessoa de bem. 
 
Torcedor são-paulino gostava de gozar de outros torcedores, principalmente de corinthianos, como é meu caso. Certa vez, em 2010 o convidei para irmos a São Paulo, onde trataria de negócios particulares. Naquela ocasião, estando próximo à Praça da Sé, convidou-me para irmos até o bairro da Liberdade, ali próximo, maior concentração da colônia japonesa na Capital Paulista. Lá chegando, perguntei-lhe o que iria fazer ali e em tom irônico e gozador disse-me: “Nada. Só o trouxe aqui para sentir o gosto de estar em “Tókio” com o seu Corinthians”, fazendo alusões ao São Paulo F.C. Esse era o Jairo gozador. Naquele instante pensei em deixá-lo em São Paulo para voltar de ônibus ou a pé, mas a amizade de cinquenta e seis anos falou mais alto. Nesse mesmo ano ao abrir uma loja de Pet Shop em Taubaté, convidei-o a trabalhar comigo, aceitando de pronto. Em virtude da escassez de mão de obra existente no mercado pet e depois de algum tempo, optei por encerrar as atividades. No período em que lá permaneceu, Jairo foi um baluarte, um grande incentivador e mais uma vez, demonstrou toda sua grandiosidade de pessoa amiga. Jairo sempre foi aquele amigo de qualquer hora, de qualquer dia e em qualquer situação. Precisasse dele para o que fosse e o ombro solidário e fiel logo se apresentava para ajudar. Estendia suas mãos sem almejar nada em troca e tinha de seus amigos a simpatia e o afeto. Agradecia a Deus por cada momento vivido, e para seus olhos e sua alma, servir a um amigo era uma profissão de fé. Jairo era casado com Ester, uma enfermeira padrão de alta competência, mãe dedicada e esposa exemplar, dedicando hoje, todo seu tempo na laboriosa e eloquente caridade aos velhinhos do Asilo São Francisco de Idosos. Deus saberá recompensá-la! Carolina, filha única, era a alegria suprema para ambos e principalmente para Jairo. Para ele, uma jóia de menina e seu diamante lapidado. Como ele, também foi trabalhar em meu Pet Shop como atendente, sendo um exemplo de dedicação e organização.

Jairo frequentava todos os dias a Praça Dom Epaminondas. Era seu ponto preferido para ali encontrar seus diletos amigos, colocar as conversas em dia e falar do seu querido São Paulo F.C. Era impressionante seu conhecimento cultural, político e histórico sobre Taubaté quando questionado sobre determinado assunto. Sempre havia uma resposta convincente e inquestionável. Uma fonte inesgotável de conhecimentos. No dia 23 de julho de 2013, passou toda aquela manhã conversando com seus amigos e depois se despedindo, dirigiu-se à sua casa. À noite, sentindo-se mal, foi conduzido ao Pronto Socorro Municipal. Já na madrugada de 24, a triste notícia de seu falecimento, tomando a todos de surpresa. Seu féretro ocorreu no mesmo dia, três meses antes de completar 66 anos de existência. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Taubaté, à Quadra 19, sepultura 498, no jazigo perpétuo da família de sua querida esposa Ester. Dessa forma querido e saudoso amigo Jairo, o dia seguinte, 25 de julho, foi muito difícil para todos nós, que, acostumados com a rotina da vida logo estávamos conversando e trocando palavras na Praça Dom Epaminondas.
Acordamos com saudade de você. Sentamos naqueles bancos, olhamos os pombinhos a correrem de um lado para outro, as pessoas caminhando cada qual ao seu destino, as árvores com suas folhas trêmulas pelo vento frio de um inverno ameno, mas, a pergunta pairava em toda a praça: "Que falta faz o Jairo!". Somente o tempo, Jairo, esse julgador imperecível de todas as coisas será capaz de mantê-lo vivo em nossos pensamentos, em nossos sentimentos e em nossas vidas. Sabe por que, Jairo? Porque a vida é assim e tem de continuar, agora sem você na mesma praça, no mesmo banco e com as pombinhas como que balbuciando seu nome.  Tudo continua igual, Jairo! Mas tenha a certeza que estamos tristes, porque não temos mais você perto de nós para conversar e apertar suas mãos.  
 
Requiescat in pace, Saudoso Amigo.


 
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO. 
cfgilberto@yahoo.com.br

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ANTONIO DE FREITAS - (50)





MILITAR 




HERÓI TAUBATEANO NA 2ª GUERRA MUNDIAL

Antonio de Freitas nasceu em Taubaté-SP aos 14 de setembro de 1921, uma quarta feira do crepúsculo do outono, à Avenida Um, nº 2, atual Rua Francisco Eugênio de Toledo, em Taubaté-SP. Era filho de Manoel de Oliveira Freitas e de Zulmira Maria da Conceição. Nesse local viveu toda sua infância e adolescência onde ajudava sua família na venda de frutas produzidas no próprio local em que residia, mais conhecida como Chácara dos Freitas.

Segundo conta Levy Bretterick, seu colega de infância e hoje um respeitável e competente jornalista, "...  O Antoninho tinha um bom caráter e sua figura esguia representava segurança, proteção e amizade para toda a garotada do bairro".  Em sua cidade natal, estudou e trabalhou até completar maioridade. A mudança de sua cidade natal, Taubaté, para o Rio de Janeiro, ocorreu devido a um convite de seu irmão Manoel de Oliveira Freitas Filho que lá residia. Após ingressar no Exército Brasileiro para cumprimento do Serviço Militar, teve sua passagem gloriosa pelas Forças Armadas em 1940 quando fora destacado ao Arquipélago de Fernando de Noronha para guarnecimento da fronteira brasileira. Naquela época o Brasil vivia os dramas externos causados pela Segunda Guerra Mundial, quando  a  participação brasileira no conflito se deu após a entrada dos Estados Unidos, formando então o Bloco dos Países Aliados contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Após o cumprimento do Serviço Militar, ingressa na Aeronáutica como funcionário civil, mais precisamente no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, onde exercia a função de eletricista, vindo a desenvolver toda sua competência em sua fase mais laboriosa e atingir seu ápice de consagração, quando da execução dos serviços prestados pela Aeronáutica na construção da ponte Rio-Niterói em janeiro de 1969. Ali permaneceria até sua aposentadoria na condição de funcionário civil.  Como cidadão de bem e como patriota, deixou seu legado às gerações futuras, oferecendo sua contribuição naquela construção  magnífica e de grande importância, com seu suor e seu amor à Pátria que tanto amou.

Residindo com sua família no Rio de Janeiro, suas visitas à Taubaté se alternavam com os feriados quando aqui passava alguns dias de seu merecido descanso, ora com seu amigo Jorge, como no Carnaval de 1966, ora com titia Edena, com visitas mais contínuas. Suas lembranças reportam-nos a um passado feliz e de saudosas e memoráveis conversas. Tudo era muito lindo. Mesmo com a distância entre nossas residências nada impedia  uma convivência harmoniosa. Sua maneira calma e muito pensativa em se manifestar faziam-no uma referência em sua tranquila aparência. Era a personificação da compreensão e com propósitos muito claros. Dessa forma, a cidade de Taubaté se viu representada no cenário político brasileiro ao ceder um seu filho a lutar pela defesa da Pátria. Sua estada em Taubaté era constante e sempre que visitava seus familiares aqui residentes orgulhava-se ao dizer: “Esta é uma terra bendita”, ao se referir por ter nascido taubateano. No Rio de Janeiro vem a constituir sua família, casando-se com Edena Guedes de Freitas, advindo daí os nascimentos de seus filhos queridos Marise, Marcos e Márcia.

Antonio de Freitas tinha 82 anos e encontrava-se internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro. Seu falecimento ocorreu no dia 31 de Julho de 2004, às 18:15 horas, conforme consta em sua Certidão de Óbito Matrícula nº 093336 02 55 2004 4 00382 172 0069972 71, atestada pela Dra. Emília Alves B. CRM nº 52775102-2. Foi sepultado no  Cemitério Ricardo Albuquerque, no Bairro Ricardo Albuquerque, Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 1º de agosto, um domingo do inverno brasileiro e coincidentemente anterior ao domingo, dia 8, Dia dos País. 

Requiescat in pace, Querido tio e Ex-Combatente Taubateano!



PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br