sexta-feira, 31 de outubro de 2014

JOSÉ LUIZ DOS SANTOS - (70)








VELHICE, UM ATRIBUTO DA GLÓRIA.



Há uma máxima que diz que o destino dos homens depende, efetivamente, menos deles mesmos do que do círculo em que surgem e se manifestam. Dessa forma, nesta edição, abordo sobre José Luiz dos Santos, natural de São Luiz do Paraitinga, neste Estado, tendo nascido aos 30 de Janeiro de 1927 e filho de lavradores naquele município. Não foi uma pessoa letrada, muito pelo contrário, sua infância foi toda ela voltada para o trabalho, para a difícil conclusão dos estudos primários, e a enfrentar, aos 14 anos de idade, a orfandade em razão do falecimento de sua mãe. No distante ano de 1945 e em plena 2ª Guerra Mundial muda-se para Taubaté, onde tem início seus grandes feitos. Eles estão registrados nos arquivos do progresso histórico de nossa região e de nosso Brasil, quando, como simples operário ajudou a construir a primeira pista da Rodovia Presidente Dutra, inaugurada em 19 de janeiro de 1951.
 
PLACA ALUSIVA À INAUGURAÇÃO DA RODOVIA PRESIDENTE DUTRA

 
Finda a primeira jornada, ingressou na Rede Ferroviária Federal S.A. para a reconstrução da nova malha viária entre São Paulo e Rio de Janeiro, mais precisamente no trecho compreendido entre Taubaté e Pindamonhangaba, com início e construção da famosa “Ponte Seca” na Vila São Geraldo. Como ele mesmo diz, era um trabalho árduo e muito perigoso, tendo certo dia, se acidentado gravemente com a queda de um dormente sobre sua mão direita, causando-lhe séria lesão, e, em consequência desse incidente, um portador de problema físico permanente. 

Tive o prazer em conhecê-lo, no final da década de 50. Pessoa da mais digna retidão, honrado, pai e marido exemplar, constituiu uma família feliz ao lado de numerosa prole de 15 filhos, 28 netos e 12 bisnetos. Seis de seus filhos ficariam para trás pelos desígnios do destino, como nordestinos que abandonam suas terras ante o flagelo da seca. Tempos depois, deixamos de nos comunicar como fazíamos. Era aquele negócio, apareça! Passaram-se os anos, vivenciamos as inevitáveis separações dos nossos filhos para seguirem seus destinos e contemplamos o amanhã como um momento mágico em nossas vidas. 

Assim, o dia do reencontro aconteceu. No sábado de carnaval fui visitá-lo em sua casa na Vila Marli. Reconhecendo-me, recebeu-me com alegria incontida, caminhando a passos lentos e apoiado em sua bengala, alquebrado que estava pelos oitenta e sete anos de lutas, com os cabelos marcados pela neve do tempo e com rugas determinando a longevidade. 

Quanta saudade e quantas palavras que não consegui pronunciar pela emoção ao reencontrá-lo! Em seu olhar cansado e profundo, lembrei-me daquele coração generoso e daquele sorriso sempre sincero. Sua vida constitui, na verdade, uma perfeita e extensa lição de sabedoria e sua velhice é um dos mais altos e nobres atributos da glória. Aquela é o complemento desta. Assim, homens como José Luiz recebem a ancianidade gloriosa como o mais belo prêmio da vida. Muitas felicidades, amigo! Deus o abençoe.


PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br



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