Tuña
é uma palavra indígena oriundo da língua tupi guarani, cujo significado
é negro, escuro. Assim, esse labrador de pelagem lisa, escura e
brilhante recebera esse nome. Tal qual a origem de seu nome, foi um
guerreiro indígena na acepção da palavra, quando esteve conosco
partilhando com suas brincadeiras e demonstrando todo o amor àqueles que
um dia o recebeu.
Nasceu aos 13 de junho de 2001, Dia de Santo Antonio, e chegou dentro
de uma cesta de palha, tipo café da manhã, trazido pelo seu mais novo
companheiro, Lucas, filho de Marly. Estava de banho tomado e com uma
fita vermelha em forma de laço ao pescoço. Muito lindinho!
Eram
2 horas da manhã quando Lucas chegou à sua residência e foi acordar sua
mãe para que o conhecesse. Sonolenta, Marly não dera muita importância
ao fato, pois, não queria mais nenhum animal em sua casa. Questionou
ainda que raça seria e ao saber que se tratava de um labrador perguntou a
seu filho se iria crescer muito, sendo-lhe respondido que seria do
tamanho de Pitchula, de porte grande. Lucas insistiria para que ao menos
ela o conhecesse, o que acabou acontecendo e concordando com o novo
“integrante” da casa, desde que Lucas cuidasse dele.
E
em seu primeiro dia de cuidados, logo ao amanhecer, Lucas foi acordado
por sua mãe para que fosse limpar as sujeiras de Tuña. Antes dele, por
lá haviam passados Pity, um cãozinho que em razão de sua idade avançada
ficara cego e desaparecera de sua casa; Pitchula, sem raça definida, era
uma cadela que insistentemente permanecia à frente da casa como a
postular um lugar na família Silva Moraes. E, acabou conseguindo, pois,
conquistou com seu olhar pidonho um cantinho naquela casa de família
harmoniosa e feliz. Um dia, quis o destino que partisse em definitivo,
doente que estava por problemas renais. Mas, deixou saudades eternas com
sua ferocidade em guardar a casa daqueles que um dia souberam ampará-la
e amá-la, recolhendo-a das ruas; Willy, um Poodle Toy muito lindo,
ficaria para trás nos caminhos da vida e faleceria devido à idade
avançada. Tuña era seu grande companheiro e sentiu muito com sua falta.
Agora seria a “bola da vez”. Crescera mimado, passando a receber a
atenção de seus donos e ser tratado como mais um da família Silva
Moraes. Mas era preciso fazê-lo esquecer de Willy. Para tanto, ganharia
de presente o cãozinho Fred, um “verdadeiro bibelot” natural de Ubatuba,
de pelagem branca, que, rejeitado por seus donos em razão de sua arcada
dentária, fora oferecido à Karina. Foi o presente que o deixaria
imensamente feliz por toda a vida, até a chegada da inevitável e
definitiva separação.
08/03/2010 - APÓS O BANHO E TODO SORRIDENTE PARA TUÑA.
Aos
quatro anos de idade e possuidor de rara beleza e esplendor físico,
tornar-se ia um herói da Pátria quando, desfilando na Avenida do Povo em
Taubaté no dia 7 de setembro de 2004 e servindo de cão-guia a Marcelo,
um deficiente visual, chamaria a atenção de milhares de espectadores. Ao
chegar defronte o palanque oficial, se apresentou ao Prefeito Bernardo
Ortiz e à primeira dama, Jandira Ortiz, ficando em pé e
cumprimentando-os. Era exemplo e a glória consumada ao servir um ser
humano, guiando-o no infinito de suas imaginações.
Como
todo labrador, sua pelagem lisa e brilhante chamava a atenção de todos,
aliado à sua docilidade e amabilidade. Fred seria o protagonista de um
amor correspondido por Tuña, certamente formalizado em razão de sua
tenra idade e que instintivamente Tuña tornara-se seu protetor. Foram
anos que se passaram e que a cada dia, mais e mais, a união entre ambos e
o amor que existia entre eles somente poderia ser testemunhada por seus
donos ou então pela luz da madrugada, que suavemente acorda os
passarinhos sem querer assustar os que ainda sonham nos ninhos.
Tuña,
Fred, seus donos e todos que lhe eram caros, passariam por um pesadelo
no fatídico dia 29 de dezembro de 2012, um sábado do verão brasileiro
para ser esquecido, mas que teimosamente insiste em permanecer em nossas
memórias. Naquele dia, antevéspera do final do ano, Fred desapareceria
misteriosamente levado por mãos estranhas de pessoas inescrupulosas, e
que não levariam em conta a dor, o desespero e a tristeza de uma
separação. Quantas noites sem dormir, quantos pensamentos duvidosos a
vagarem pelo infinito, quanto sofrimento pela perda inesperada de um
grande “alguém” não passaram Marly, Andrezza, Karina, Lucas e
principalmente sua alma gêmea, Tuña! Foram meses de angústia e aflição,
com buscas incessantes e infrutíferas. Preces foram elevadas aos céus e
assim, quiseram o destino e o tempo, este, julgador imperecível de todas
as coisas, que o sofrimento tivesse fim, e Deus, Onipotente e
Onipresente devolveria Fred para o convívio novamente de todos.
No
dia 28 de dezembro de 2013, um dia antes que completasse um ano de seu
desaparecimento, coincidentemente Fred apareceria como que
milagrosamente à sua casa e para alegria de todos. Tuña não sabia o que
fazer, e Fred, quase que sufocado por seus abraços e suas brincadeiras
era um contentamento só, uma alegria imorredoura, uma paz sem fim! Todos
voltaram a sorrir. Todos estavam felizes.
Meses
depois, como que esperando a volta de Fred, Tuña passou a apresentar
problemas de saúde, começando assim, uma vida de sofrimentos. Padeceu
imensamente com uma doença impiedosa, insidiosa e devastadora, que não
lhe dava tréguas e nem chance de defesa. Porém, Tuña continuava forte e
mais que um amigo, o irmão mais velho de Fred e o mesmo amigo de seus
donos, agradecido que era pelo tratamento despendido. Lutou bravamente
contra esse mal, tanto quanto lutara pela espera do retorno de Fred que
afinal, acontecera. Mas, fora em vão...
Tratei
da beleza estética de Tuña e Fred por quase dois anos, tendo seu
primeiro banho e o de Fred ocorrido em 23 de dezembro de 2009, tempo
suficiente para entender o amor incondicional que ambos partilhavam. Ao
chegar à sua casa para transportá-los para o banho semanal, primeiro
precisava colocar Fred dentro do compartimento da Fiorino para depois
Tuña correr para ficar ao seu lado.
Nunca
vira coisa igual! Acompanhei seu sofrimento por algumas vezes que fui
visitá-lo, coisa muito triste de presenciar, pois, convivi com Tuña com
uma saúde de causar inveja. Na semana de seu falecimento fui visitá-lo
como de costume aos sábados à noite. Marly me recebera de maneira como
que trocando palavras e logo percebi o inevitável. Não mais seria
possível dar-lhe bifinhos de frango ou bolachas da Pedygree que tanto
gostava. Também não mais poderia tocá-lo, beijar seu focinho e abraçá-lo
como sempre fizera.
Tuña
partira deste mundo para viver com seu Criador, com certeza, um lugar
onde não se possa subtrair um melhor amigo e onde doenças incuráveis não
existam. Despediu-se de nós com um "até breve" no dia 12 de setembro de
2014, às 15.40 horas de uma sexta feira do crepúsculo do inverno
brasileiro, da mesma maneira com que fora recepcionado por Marly,
outrora, dentro de uma cesta de palha. Somente ela teria a oportunidade
de lhe dirigir as últimas palavras. Fred seu amiguinho inseparável ao
presenciar seus últimos momentos e quando do segundo final, saiu de
perto e foi para o quintal, como que olhar para os céus e pedir a Deus
que recebesse e guardasse seu amiguinho em seu Reino.
Tuña
está sepultado no Sítio Itacuruçá, de propriedade do Dr. Celso Sá
Rodrigues, amigo da Família Silva Moraes, e que de maneira prestimosa,
gentil e humanitária cedeu sua propriedade para que ali pudesse ser
sepultado, tal como Willy. Obrigado doutor Celso, lá no alto dos céus
existe um Grande Homem, Onipotente e Onipresente que caminha com um
Grande Livro sempre atualizando suas contas. E Esse Contabilista com
certeza, jamais errou...
À você Tuña, a
certeza de que um um dia, possa tê-lo e apertá-lo em meus braços
novamente. E, enquanto esperarei ansioso por esse momento tão
gratificante, há de ficar guardado para mim, nas mãos do Criador.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA -
HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL
GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário