quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

EDEN JOÃO SANTIAGO (16)







A FELICIDADE NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO



                                    O CORNETEIRO DO 5º BPM/I




Ontem, ao concluir meus afazeres na vida de caserna, vivi momentos felizes em minha existência, o que, por graça do Deus Todo-poderoso, ainda ecoam em meus sentimentos. Ouvi, como sempre, o canto alegre e brincalhão de vários bem-te-vis, como que anunciando e desejando aos que ali se encontravam toda a felicidade, toda paz, toda alegria, enfim, toda a felicidade da vida em tão nobre, mas, difícil e arriscada missão do policial militar. Mais adiante, ouvi, também, o romper no poente, um gemido suave e doloroso! Uma pausa ligeira e outro gemido mais alto dão a nota máxima, de maneira magistral. É a corneta do 5º BPM/I, que através de seu personagem mais subalterno, o Sd PM Santiago, ensaia uma perfeita execução de um dos toques militares. É o clarim militar, que na boca de um soldado, determina a última ordem sonora: a ordem de silêncio! E como é comovente, magoado e cortante, aquele apelo metálico, vibrado no anunciar do crepúsculo, diante das primaveras, algumas, floridas e alegres, outras, em mutações e tristes, diante da Lua, no zênite, nervosa e inquieta, entre os pedaços de nuvens que passavam, como se escolhesse à ultima hora, e com o noivo à espera o melhor vestido de baile. Quanta alma, quanta saudade, põe esse soldado no grito estridente ou em surdina melancólico daquele instrumento singelo e vazio! A lembrança de seus entes queridos que lá ficaram à espera de seu retorno, quase sempre incerto, diante da profissão que enfrenta. Aquele sinal sonoro lançado aos ventos, não anuncia apenas o soldado que se recolhe a si mesmo. Durante o dia tivera seus momentos de faina militar: o exercício, a revista, a aula, a preocupação em atender, e bem, aos seus próximos e aos irmãos de armas. O espírito andou por fora e o coração também. Com aquele grito ao entardecer, coração e espírito se recolhem, e, nesses instantes passa a conversar consigo mesmo e com Deus. 

Por isso, é tão doloroso, tão profundo, tão cheio de alma, o toque de silêncio num ambiente de caserna. Por isso é dele ainda mais triste, mais longo, mais doce e mais amargo, nas suas modulações, no Quartel do 5º BPM/I, junto às árvores frondosas onde pousam os abençoados bem-te-vis. O soldado Santiago, atira para o céu, para as primaveras e para o anonimato, as vozes da saudade da despedida. É um poeta e um namorado. Ele não sopra o clarim, mas, seu próprio coração. E aqueles gemidos e aquelas queixas que se espalham por todos os cantos e vão se perder no infinito, é esse mesmo coração que se desfaz em sonoridades para tornar-se mais leve e caber inteiro no peito de quem o tem. Soldado Santiago, eu te admiro e te invejo! Quem me dera a ventura de, nos colóquios com a minha alma, interpretar para os homens e para as coisas, com a minha caneta, a angústia, a saudade, a alegria, a coragem, a tristeza e a esperança, que se lhe transmite, cada noite, as 22:00 horas, com o jeito de dor e ao mesmo tempo de paz o teu clarim! Continue soldado Santiago, a modular com a boca o teu clarim e levar aos céus o toque de silêncio, pois sendo o mais triste, chora a saudade eterna de alguém que não mais existe. Eu, aqui um pouco distante, continuarei a render graças por esses momentos felizes acompanhado pelo coral dos bem-te-vis. 

Que Deus o abençoe sempre e aos seus. Do amigo e companheiro de caserna.


                                   Quartel em Taubaté, 02 de junho de 1993.

Um comentário:

  1. O corneteiro do 5.º BPM/I | 21/06/2013
    Caro Gilberto Peregrinando por seu trabalho (estou apenas iniciando), pude constatar sua verve poética ao descrever o corneteiro Santiago. Tenha certeza que com sua caneta você emite sons tão afinados quanto o clarim daquele soldado. Parabéns! Moraes
    Benedito Moraes de Faria

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