A FELICIDADE NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO
O CORNETEIRO DO 5º BPM/I
Ontem, ao concluir meus afazeres na vida de
caserna, vivi momentos felizes em minha existência, o que, por graça do Deus
Todo-poderoso, ainda ecoam em meus sentimentos. Ouvi, como sempre, o canto
alegre e brincalhão de vários bem-te-vis, como que anunciando e desejando aos
que ali se encontravam toda a felicidade, toda paz, toda alegria, enfim, toda a
felicidade da vida em tão nobre, mas, difícil e arriscada missão do policial
militar. Mais adiante, ouvi, também, o romper no poente, um gemido suave e doloroso!
Uma pausa ligeira e outro gemido mais alto dão a nota máxima, de maneira
magistral. É a corneta do 5º BPM/I, que através de seu personagem mais
subalterno, o Sd PM Santiago, ensaia uma perfeita execução de um dos toques
militares. É o clarim militar, que na boca de um soldado, determina a última
ordem sonora: a ordem de silêncio! E como é comovente, magoado e cortante,
aquele apelo metálico, vibrado no anunciar do crepúsculo, diante das
primaveras, algumas, floridas e alegres, outras, em mutações e tristes, diante
da Lua, no zênite, nervosa e inquieta, entre os pedaços de nuvens que passavam,
como se escolhesse à ultima hora, e com o noivo à espera o melhor vestido de
baile. Quanta alma, quanta saudade, põe esse soldado no grito estridente ou em
surdina melancólico daquele instrumento singelo e vazio! A lembrança de seus
entes queridos que lá ficaram à espera de seu retorno, quase sempre incerto,
diante da profissão que enfrenta. Aquele sinal sonoro lançado aos ventos, não
anuncia apenas o soldado que se recolhe a si mesmo. Durante o dia tivera seus
momentos de faina militar: o exercício, a revista, a aula, a preocupação em
atender, e bem, aos seus próximos e aos irmãos de armas. O espírito andou por
fora e o coração também. Com aquele grito ao entardecer, coração e espírito se
recolhem, e, nesses instantes passa a conversar consigo mesmo e com Deus.
Por isso, é tão doloroso, tão profundo, tão cheio
de alma, o toque de silêncio num ambiente de caserna. Por isso é dele ainda
mais triste, mais longo, mais doce e mais amargo, nas suas modulações, no
Quartel do 5º BPM/I, junto às árvores frondosas onde pousam os abençoados
bem-te-vis. O soldado Santiago, atira para o céu, para as primaveras e para o
anonimato, as vozes da saudade da despedida. É um poeta e um namorado. Ele não
sopra o clarim, mas, seu próprio coração. E aqueles gemidos e aquelas queixas
que se espalham por todos os cantos e vão se perder no infinito, é esse mesmo
coração que se desfaz em sonoridades para tornar-se mais leve e caber inteiro no
peito de quem o tem. Soldado Santiago, eu te admiro e te invejo! Quem me dera a
ventura de, nos colóquios com a minha alma, interpretar para os homens e para
as coisas, com a minha caneta, a angústia, a saudade, a alegria, a coragem, a
tristeza e a esperança, que se lhe transmite, cada noite, as 22:00 horas, com o
jeito de dor e ao mesmo tempo de paz o teu clarim! Continue soldado Santiago, a
modular com a boca o teu clarim e levar aos céus o toque de silêncio, pois
sendo o mais triste, chora a saudade eterna de alguém que não mais existe. Eu,
aqui um pouco distante, continuarei a render graças por esses momentos felizes
acompanhado pelo coral dos bem-te-vis.
Que Deus o abençoe sempre e aos seus. Do amigo e companheiro de caserna.
Que Deus o abençoe sempre e aos seus. Do amigo e companheiro de caserna.
Quartel em Taubaté, 02 de junho de 1993.
O corneteiro do 5.º BPM/I | 21/06/2013
ResponderExcluirCaro Gilberto Peregrinando por seu trabalho (estou apenas iniciando), pude constatar sua verve poética ao descrever o corneteiro Santiago. Tenha certeza que com sua caneta você emite sons tão afinados quanto o clarim daquele soldado. Parabéns! Moraes
Benedito Moraes de Faria