terça-feira, 20 de agosto de 2013

ESCRAVIDÃO, INSTITUIÇÃO DURADOURA E INTERESSEIRA - (10)


 



MARCAS DE UM PASSADO.



"ESCRAVIDÃO, INSTITUIÇÃO DURADOURA E INTERESSEIRA".


Muito se tem questionado sobre a escravidão no Brasil, a qual perdurou por mais de três séculos. O processo que se desenvolveu para sua abolição, foi lento e desinteressado, e até mesmo ilegítimo para as classes dominantes, as quais justificavam e argumentavam que, graças a elas, os negros eram resgatados da plena ignorância em que viviam, e assim, convertidos ao cristianismo, como se os negros não tivessem cultura, quando na verdade o que existiam e existem, são culturas diferentes, nunca superiores ou inferiores. A própria Carta Constitucional de 1824, ignorou os escravos, não reconhecendo nem mesmo sua existência, aos quais não lhes asseguravam as garantias constitucionais, consumando um flagrante desrespeito à humanidade, mesmo incluindo em seus artigos a liberdade inalienável do homem (Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão). 

O escravo negro somente foi reconhecido "liberto" quando da eclosão da Guerra do Paraguai, onde o governo concedera liberdade aos designados para o Serviço do Exército, estendendo esse "benefício" às suas mulheres. As injustiças eram evidentes, como bem demonstra um fato ocorrido com um dos proprietários de escravos: "Tenho um filho que não é Guarda Nacional e devido às circunstâncias em que nos achamos com a Guerra do Paraguai e querendo concorrer com meu contingente para o triunfo do meu país, resolvi oferecer para sentar praça no Exército, em substituição ao meu filho, o meu escravo Marcolino de Camargo, ao qual concedo liberdade para esse fim". (Campinas, Janeiro de 1867). 

Por ironia ou não do destino, foi a partir da Guerra do Paraguai que o negro passa a questionar cada vez mais sua participação na sociedade e aspirar os ares da abolição e da República, uma vez que servira à Pátria. Ainda que em circunstâncias adversas e contraditórias, a verdade é que se mantiveram informados com os demais soldados, fossem eles brasileiros, argentinos ou uruguaios, acerca da cidadania e da sua inclusão na discussão dos problemas da Nação. Em suma, a abolição da escravatura representara apenas e tão somente o direito de ser livre, para escolher entre a miséria e a opressão em que viveram, e ainda vivem, um grande número de trabalhadores brasileiros.



PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.  
cfgilberto@yahoo.com.br

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