MARCAS DE UM PASSADO.
"ESCRAVIDÃO, INSTITUIÇÃO DURADOURA E INTERESSEIRA".
"ESCRAVIDÃO, INSTITUIÇÃO DURADOURA E INTERESSEIRA".
Muito se tem questionado sobre a escravidão no
Brasil, a qual perdurou por mais de três séculos. O processo que se desenvolveu
para sua abolição, foi lento e desinteressado, e até mesmo ilegítimo para as
classes dominantes, as quais justificavam e argumentavam que, graças a elas, os
negros eram resgatados da plena ignorância em que viviam, e assim, convertidos
ao cristianismo, como se os negros não tivessem cultura, quando na verdade o
que existiam e existem, são culturas diferentes, nunca superiores ou
inferiores. A própria Carta Constitucional de 1824, ignorou os escravos, não
reconhecendo nem mesmo sua existência, aos quais não lhes asseguravam as
garantias constitucionais, consumando um flagrante desrespeito à humanidade,
mesmo incluindo em seus artigos a liberdade inalienável do homem (Declaração
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão).
O escravo negro somente foi reconhecido "liberto" quando da eclosão da Guerra do Paraguai, onde o governo concedera liberdade aos designados para o Serviço do Exército, estendendo esse "benefício" às suas mulheres. As injustiças eram evidentes, como bem demonstra um fato ocorrido com um dos proprietários de escravos: "Tenho um filho que não é Guarda Nacional e devido às circunstâncias em que nos achamos com a Guerra do Paraguai e querendo concorrer com meu contingente para o triunfo do meu país, resolvi oferecer para sentar praça no Exército, em substituição ao meu filho, o meu escravo Marcolino de Camargo, ao qual concedo liberdade para esse fim". (Campinas, Janeiro de 1867).
Por ironia ou não do destino, foi a partir da Guerra do Paraguai que o negro passa a questionar cada vez mais sua participação na sociedade e aspirar os ares da abolição e da República, uma vez que servira à Pátria. Ainda que em circunstâncias adversas e contraditórias, a verdade é que se mantiveram informados com os demais soldados, fossem eles brasileiros, argentinos ou uruguaios, acerca da cidadania e da sua inclusão na discussão dos problemas da Nação. Em suma, a abolição da escravatura representara apenas e tão somente o direito de ser livre, para escolher entre a miséria e a opressão em que viveram, e ainda vivem, um grande número de trabalhadores brasileiros.
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR,
PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES
SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
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