quarta-feira, 5 de novembro de 2014

OSMAR DA COSTA SANTOS - (75)



 
O SORRISO SEMPRE CONSTANTE.



SOMBRAS FELIZES.


Em uma data tão importante quanto à Independência de Quayaquil da Espanha, dos nascimentos de Mário de Andrade, escritor e idealizador da Semana da Arte Moderna ou de John Lennon, músico britânico da Banda The Beatles, São Paulo dava as boas vindas ao mais novo de seus filhos, Osmar da Costa Santos. Nascera no tradicional Bairro do Canindé, na capital paulistana aos 09 de outubro de 1936, um sábado da primavera brasileira. 

Osmar era o quarto de uma geração de cinco filhos do casal Juvenal da Costa Santos e de Maria da Conceição Ribeiro Santos, antecedidos por Guiomar, Zilma e Delza, e precedido por Adhemar, caçula da família Costa Santos e um grande jogador de futebol, não seguindo o profissionalismo por questões pessoais. Como seus irmãos, Osmar tivera uma infância dentro dos padrões existentes daquela época, com muito amor e carinho de seus pais, aliados a uma educação voltada para a constância do conhecimento da religião, do respeito pela vida e, principalmente, pelo seu semelhante.

Seu pai, um valoroso soldado da Força Pública do Estado de São Paulo, pertencia ao 1º Batalhão Tobias de Aguiar. Fora um baluarte, um herói como tantos outros quando das conquistas paulistas, como a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932. Seu nome está inserido nas páginas de glórias da Milícia Bandeirante e dos anais da História do Brasil. Derrotado nos campos de batalhas saíra vitorioso com a consequente promulgação da Constituição Brasileira de 1934. 

Osmar vivera toda sua juventude em uma Taubaté bucólica, mas, com sua importância econômica despertando para o progresso industrial da região valeparaibana, como na década de 50, quando se apresentava como a Capital do Vale do Paraíba em virtude de sua expansão industrial, tendo como grandes indústrias as fábricas da Companhia Taubaté Industrial (tecidos), Corozita (botões), Embaré (doces) e Studenick (laminação), dentre outras. 

Ainda jovem, despontaria como grande promessa do futebol, concretizando seu grande sonho em envergar a gloriosa camisa do E. C. Taubaté, onde, em pouco tempo faria parte do ataque alvi-azul. Com sua impetuosidade e investidas empolgantes e objetivas encantou o público por duas décadas. Sua habilidade na condução da bola em velocidade deixava em polvorosa as defesas adversárias.  A memorável partida contra o São Paulo no Pacaembu quanto marcou dois golaços, ainda permanecem na mente dos saudosistas e eternos torcedores do Burro da Central. 



NO E.C. TAUBATÉ.


Em outra ocasião com partida realizada pelo Campeonato Paulista em 24 de agosto de 1958 e contra o próprio São Paulo, seria o autor do único gol do E.C. Taubaté, quando fora derrotado. Assim constava a súmula:

Data: 24.08.1958

Jogo: E.C. Taubaté 1 x 2 São Paulo F.C.

Local:  Estádio  da “Praça Monselhor Silva Barros", em Taubaté.

E. C. Taubaté: Rossi, Orlando Maia e Rubens; Ananias, Celso e Ivan; Tec, Osmar, Gato, Mario e Evaldo. 

São Paulo FC: Poy, De Sordi e Mauro; Sarara, Vitor e Gersio; Juraci, Amauri, Gino, Canhoteiro e Roberto. 

Marcadores: Amauri (24-1º), Osmar (40-1º) e Amauri (28-2º) 

Árbitro: Juan Lorenzo Gastaldi.

Renda: Cr$ 359.785,00




Em pé da Esq. p/ a Dir.: Orlando Maia, Celso, Rossi, Ananias, Ivã e Rubens;

Agachados: Teck, Osmar, Gato, Mário Preto, Evaldo e Massagista Jorge Coutinho.


Também na partida contra o Corinthians em que numa arrancada típica de um craque, fulminou inapelavelmente o grande goleiro Gilmar. Anos mais tarde, defenderia a querida e saudosa Esportiva de Guaratinguetá, e, mais uma vez, agora na vermelhinha como era conhecida, deixou os torcedores do Taubaté entristecidos, com a vitória contra seu ex-clube por 1X0 e com o gol de sua autoria. Coisas do futebol. Foi um dos grandes goleadores de sua época no E.C. Taubaté e artilheiro da 2ª Divisão de Profissionais jogando pela Esportiva de Guaratinguetá e campeão quando essa mesma agremiação ascendeu à Primeira Divisão. 

Deixando o profissionalismo, defenderia clubes amadores da cidade como o Palestra F.C. e o Garça E.C., este, um clube que ajudou a fundar e ao qual dedicou sua vida. Mais tarde, em 1976, assumiria a direção técnica do E.C. Taubaté, dirigindo a equipe principal naquele ano e tornando-se Campeão do Torneio Integração do Vale.


QUANDO TÉCNICO DA MEMORÁVEL CAMPANHA.

Após concluir o período inicial de seus estudos, voltou-se para os bancos escolares superiores, diplomando-se em Ciências Jurídicas, em Educação Física, em Administração de Empresas e em Ciências Contábeis. Era um valoroso funcionário público estadual e prestava seus serviços no Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (D.E.R).

Casou-se com Neide, o grande amor de sua vida e com a qual tivera três filhos, Silvia Helena, casada com Athayde José Ferreira, Silvio César, casado com Christiane Tischer Santos e Sibeli, casada com Marcelo de Aguiar Rodrigues Cembranelli, descendente do famoso cientista taubateano Dr. Cembranelli. Seus filhos queridos e abençoados lhe presentearam com os lindos netos Felipe, Thiago, Chrystian, Vivian e Viccenzo, este, o neto que o destino se encarregou de não presenteá-lo em vida. 



MOMENTO INESQUECÍVEL.

Era um apaixonado pelo tradicional carnaval brasileiro e um ainda "menino brincalhão” nas noites de natal, ocasião em que se vestia de Papai Noel e alegrava seus filhos, netos e as crianças de sua rua. Como peculiaridades de sua vida familiar, tinha como prato predileto nhoque preparado por sua esposa Neide. Sua família era a razão de sua vida, tornando-a consequência natural de dias felizes. 



UM PAPAI NOEL FELIZ. 

Em momentos difíceis e de muitos transtornos pelos quais passou, conviveu com sérios problemas de saúde de sua primogênita Silvia Helena, uma dedicada e competente professora. Em plena juventude fora acometida de um tumor benigno no cerebelo, tendo de submeter-se a uma delicadíssima cirurgia no Hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo. Sempre ao lado de seu anjo, aquela filha era seu mundo. Quando ela dormia em seu sono de enferma, ele lhe acariciava os cabelos como o fazia quando pequenina em seu sono inocente, como a dirigir-lhe palavras de ternura, para atingir-lhe o cérebro através do coração. 

Dedicou-lhe todo o amor e carinho que somente um pai, extremoso como era e devoto de Nossa Senhora Aparecida seria capaz. Enfrentando esse drama doloroso representado no palco da vida, demonstrou uma admirável capacidade de renúncia de seu coração ao receber as bênçãos de sua Santa fervorosa com a cura daquela que tanto amava. Pude testemunhar esse momento mágico e de alegria incontida em sua vida. Também, acompanhou os primeiros passos de seu filho Silvio César no mundo do futebol e nutria por ele a esperança de vê-lo atuar no profissionalismo como grande goleiro que era, mas que, seguindo as diretrizes da vida optou por estudar e vencer como pródigo e competente engenheiro civil. Silvio César era seu grande ídolo e aquele amiguinho inseparável de todas as coisas. Sibeli, a caçulinha encantadora, completava o orgulho da Familia Costa Santos. Estudiosa, educada e obediente trilhava os caminhos da ventura em uma vida que lhe seria pontilhada de sucessos, mas, sempre contando com o carinho e o afeto de seu pai. Formada em Odontologia, é Mestre e Doutoranda em Medicina Tropical e Infectologia, sendo para nós taubateanos, razão incomensurável de um orgulho sem fim.

Seu sonho derradeiro estaria reservado para o enlace matrimonial da “caçulinha de sua vida”, Sibeli. Assim, após ter sido internado no Hospital do Servidor Público Estadual no início de 2005 para tratamento da terrível doença, receberia alta alguns dias depois e concretizaria aquele tão acalentado sonho de conduzir sua filha ao altar em maio daquele mesmo ano, justamente no mês dedicado às noivas e à Maria, Mãe de Jesus. A Capela de Nossa Senhora do Sagrado Coração, em Tremembé-SP fora o local escolhido. Um lugar sagrado e que historicamente teve início com a vinda dos monges trapistas ao Brasil, que fugiam das perseguições na França, motivadas pelo totalitarismo reinante em toda a Europa. Ali, naquele dia 21 de maio de 2005, às 19.00 horas, com com as estrelas pontilhando no céu e com os anjos a entoarem cânticos de amor, Osmar renderia graças ao Senhor por ter-lhe concedido o grande desejo de sua vida, ao levar diante Deus e da imagem de Nossa Senhora, sua terna Sibeli. Com a alegria incontida do amor pela família, Osmar era o espelho da felicidade. 



ENFIM, O SONHO REALIZADO!

Como tantos brasileiros amantes da música raiz era fã incondicional da dupla sertaneja Tonico e Tinoco e do Trio Parada Dura. Como pessoa, possuidor de uma conduta ilibada, homem íntegro, marido exemplar e amigo de todos que lhe acercavam, era complementado pela figura humana fraterna e benevolente. Sua humildade se estendia pelo entendimento de pequenas coisas, não dificultando com isso, o curso natural do diálogo e da compreensão. Aos domingos tão aguardados, frequentava assiduamente a tradicional Feira da Barganha,  ponto de encontro tradicional da família taubateana e de cidades vizinhas. Tinha em Caetano, um craque de nossa várzea, aquele que mereceria um especial carinho, devido aos anos dedicados por uma amizade sincera e pródiga. Católico, era devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida. 

Certa vez, o encontrei juntamente com Neide, sua esposa, companheira, mãe ardorosa e fiel, quando de uma visita de rotina ao meu médico, ocasião em que conversamos um pouco sobre nossa saúde e onde, para ele, seria o início de um calvário e de um período de uma luta desigual. Como um soldado espartano portou-se bravamente até ao derradeiro instante. Quis o destino que às 15.45 horas do dia 25 de setembro de 2005, seus olhos se fechassem para sempre e seus lábios se emudecessem. Partira deste mundo, acometido que fora por uma doença impiedosa e que não lhe dera trégua. Seu corpo foi velado na Capela da Organização Assistencial de Luto São Benedito, em Taubaté-SP e sepultado no dia 26 de setembro às 16.30 horas no Cemitério Municipal, no Jazigo Perpétuo da Família. Eternas saudades. Que sua alma descanse em paz!



 
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br




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