O SORRISO SEMPRE CONSTANTE.
SOMBRAS FELIZES.
Em
uma data tão importante quanto à Independência de Quayaquil da Espanha,
dos nascimentos de Mário de Andrade, escritor e idealizador da Semana
da Arte Moderna ou de John Lennon, músico britânico da Banda The
Beatles, São Paulo dava as boas vindas ao mais novo de seus filhos,
Osmar da Costa Santos. Nascera no tradicional Bairro do Canindé, na
capital paulistana aos 09 de outubro de 1936, um sábado da primavera
brasileira.
Osmar
era o quarto de uma geração de cinco filhos do casal Juvenal da Costa
Santos e de Maria da Conceição Ribeiro Santos, antecedidos por Guiomar,
Zilma e Delza, e precedido por Adhemar, caçula da família Costa Santos e
um grande jogador de futebol, não seguindo o profissionalismo por
questões pessoais. Como seus irmãos, Osmar tivera uma
infância dentro dos padrões existentes daquela época, com muito amor e
carinho de seus pais, aliados a uma educação voltada para a constância
do conhecimento da religião, do respeito pela vida e, principalmente,
pelo seu semelhante.
Seu
pai, um valoroso soldado da Força Pública do Estado de São Paulo,
pertencia ao 1º Batalhão Tobias de Aguiar. Fora um baluarte, um herói
como tantos outros quando das conquistas paulistas, como a eclosão da
Revolução Constitucionalista de 1932. Seu nome está inserido nas páginas
de glórias da Milícia Bandeirante e dos anais da História do Brasil.
Derrotado nos campos de batalhas saíra vitorioso com a consequente
promulgação da Constituição Brasileira de 1934.
Osmar
vivera toda sua juventude em uma Taubaté bucólica, mas, com sua
importância econômica despertando para o progresso industrial da região
valeparaibana, como na década de 50, quando se
apresentava como a Capital do Vale do Paraíba em virtude de sua expansão
industrial, tendo como grandes indústrias as fábricas da Companhia
Taubaté Industrial (tecidos), Corozita (botões), Embaré (doces) e
Studenick (laminação), dentre outras.
Ainda
jovem, despontaria como grande promessa do futebol, concretizando seu
grande sonho em envergar a gloriosa camisa do E. C. Taubaté, onde, em
pouco tempo faria parte do ataque alvi-azul. Com sua impetuosidade e
investidas empolgantes e objetivas encantou o público por duas décadas.
Sua habilidade na condução da bola em velocidade deixava em polvorosa as
defesas adversárias. A memorável partida contra o São Paulo no
Pacaembu quanto marcou dois golaços, ainda permanecem na mente dos
saudosistas e eternos torcedores do Burro da Central.
NO E.C. TAUBATÉ.
Em
outra ocasião com partida realizada pelo Campeonato Paulista em 24 de
agosto de 1958 e contra o próprio São Paulo, seria o autor do único gol
do E.C. Taubaté, quando fora derrotado. Assim constava a súmula:
Data: 24.08.1958
Jogo: E.C. Taubaté 1 x 2 São Paulo F.C.
Local: Estádio da “Praça Monselhor Silva Barros", em Taubaté.
E. C. Taubaté: Rossi, Orlando Maia e Rubens; Ananias, Celso e Ivan; Tec, Osmar, Gato, Mario e Evaldo.
São Paulo FC: Poy, De Sordi e Mauro; Sarara, Vitor e Gersio; Juraci, Amauri, Gino, Canhoteiro e Roberto.
Marcadores: Amauri (24-1º), Osmar (40-1º) e Amauri (28-2º)
Árbitro: Juan Lorenzo Gastaldi.
Renda: Cr$ 359.785,00
Em pé da Esq. p/ a Dir.: Orlando Maia, Celso, Rossi, Ananias, Ivã e Rubens;
Agachados: Teck, Osmar, Gato, Mário Preto, Evaldo e Massagista Jorge Coutinho.
Também
na partida contra o Corinthians em que numa arrancada típica de um
craque, fulminou inapelavelmente o grande goleiro Gilmar. Anos mais
tarde, defenderia a querida e saudosa Esportiva de Guaratinguetá, e,
mais uma vez, agora na vermelhinha como era conhecida, deixou os
torcedores do Taubaté entristecidos, com a vitória contra seu ex-clube
por 1X0 e com o gol de sua autoria. Coisas do futebol. Foi um dos
grandes goleadores de sua época no E.C. Taubaté e artilheiro da 2ª
Divisão de Profissionais jogando pela Esportiva de Guaratinguetá e
campeão quando essa mesma agremiação ascendeu à Primeira Divisão.
Deixando
o profissionalismo, defenderia clubes amadores da cidade como o
Palestra F.C. e o Garça E.C., este, um clube que ajudou a fundar e ao
qual dedicou sua vida. Mais tarde, em 1976, assumiria a direção técnica
do E.C. Taubaté, dirigindo a equipe principal naquele ano e tornando-se
Campeão do Torneio Integração do Vale.
QUANDO TÉCNICO DA MEMORÁVEL CAMPANHA.
Após
concluir o período inicial de seus estudos, voltou-se para os bancos
escolares superiores, diplomando-se em Ciências Jurídicas, em Educação
Física, em Administração de Empresas e em Ciências Contábeis. Era um
valoroso funcionário público estadual e prestava seus serviços no
Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo (D.E.R).
Casou-se
com Neide, o grande amor de sua vida e com a qual tivera três filhos,
Silvia Helena, casada com Athayde José Ferreira, Silvio César, casado
com Christiane Tischer Santos e Sibeli, casada com Marcelo de Aguiar
Rodrigues Cembranelli, descendente do famoso cientista taubateano Dr.
Cembranelli. Seus filhos queridos e abençoados lhe presentearam com os
lindos netos Felipe, Thiago, Chrystian, Vivian e Viccenzo, este, o neto
que o destino se encarregou de não presenteá-lo em vida.
MOMENTO INESQUECÍVEL.
Era
um apaixonado pelo tradicional carnaval brasileiro e um ainda "menino
brincalhão” nas noites de natal, ocasião em que se vestia de Papai Noel e
alegrava seus filhos, netos e as crianças de sua rua.
Como peculiaridades de sua vida familiar, tinha como prato predileto
nhoque preparado por sua esposa Neide. Sua família era a razão de sua
vida, tornando-a consequência natural de dias felizes.
UM PAPAI NOEL FELIZ.
Em
momentos difíceis e de muitos transtornos pelos quais passou, conviveu
com sérios problemas de saúde de sua primogênita Silvia Helena, uma
dedicada e competente professora. Em plena juventude fora acometida de
um tumor benigno no cerebelo, tendo de submeter-se a uma delicadíssima
cirurgia no Hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo. Sempre ao
lado de seu anjo, aquela filha era seu mundo. Quando ela dormia em seu
sono de enferma, ele lhe acariciava os cabelos como o fazia quando
pequenina em seu sono inocente, como a dirigir-lhe palavras de ternura,
para atingir-lhe o cérebro através do coração.
Dedicou-lhe
todo o amor e carinho que somente um pai, extremoso como era e devoto
de Nossa Senhora Aparecida seria capaz. Enfrentando esse drama doloroso
representado no palco da vida, demonstrou uma admirável capacidade de
renúncia de seu coração ao receber as bênçãos de sua Santa fervorosa com
a cura daquela que tanto amava. Pude testemunhar esse momento mágico e
de alegria incontida em sua vida. Também, acompanhou os primeiros passos
de seu filho Silvio César no mundo do futebol e nutria por ele a
esperança de vê-lo atuar no profissionalismo como grande goleiro que
era, mas que, seguindo as diretrizes da vida optou por estudar e vencer
como pródigo e competente engenheiro civil. Silvio César era seu grande
ídolo e aquele amiguinho inseparável de todas as coisas. Sibeli, a
caçulinha encantadora, completava o orgulho da Familia Costa Santos.
Estudiosa, educada e obediente trilhava os caminhos da ventura em uma
vida que lhe seria pontilhada de sucessos, mas, sempre contando com o
carinho e o afeto de seu pai. Formada em Odontologia, é Mestre e
Doutoranda em Medicina Tropical e Infectologia, sendo para nós
taubateanos, razão incomensurável de um orgulho sem fim.
Seu sonho derradeiro estaria reservado para o enlace matrimonial da “caçulinha de sua vida”, Sibeli.
Assim, após ter sido internado no Hospital do Servidor Público Estadual
no início de 2005 para tratamento da terrível doença, receberia alta
alguns dias depois e concretizaria aquele tão acalentado sonho de
conduzir sua filha ao altar em maio daquele mesmo ano, justamente no mês
dedicado às noivas e à Maria, Mãe de Jesus. A Capela de Nossa Senhora
do Sagrado Coração, em Tremembé-SP fora o local escolhido. Um lugar
sagrado e que historicamente teve início com a vinda dos monges
trapistas ao Brasil, que fugiam das perseguições na França, motivadas
pelo totalitarismo reinante em toda a Europa. Ali, naquele dia 21 de
maio de 2005, às 19.00 horas, com com as estrelas pontilhando no céu e
com os anjos a entoarem cânticos de amor, Osmar renderia graças ao
Senhor por ter-lhe concedido o grande desejo de sua vida, ao levar
diante Deus e da imagem de Nossa Senhora, sua terna Sibeli. Com a alegria incontida do amor pela família, Osmar era o espelho da felicidade.
ENFIM, O SONHO REALIZADO!
Como
tantos brasileiros amantes da música raiz era fã incondicional da dupla
sertaneja Tonico e Tinoco e do Trio Parada Dura. Como pessoa, possuidor
de uma conduta ilibada, homem íntegro, marido exemplar e amigo de todos
que lhe acercavam, era complementado pela figura humana fraterna e
benevolente. Sua humildade se estendia pelo entendimento de pequenas
coisas, não dificultando com isso, o curso natural do diálogo e da
compreensão. Aos domingos tão aguardados, frequentava assiduamente a
tradicional Feira da Barganha, ponto de encontro tradicional da família
taubateana e de cidades vizinhas. Tinha em Caetano, um craque de nossa
várzea, aquele que mereceria um especial carinho, devido aos anos
dedicados por uma amizade sincera e pródiga. Católico, era devoto
fervoroso de Nossa Senhora Aparecida.
Certa
vez, o encontrei juntamente com Neide, sua esposa, companheira, mãe
ardorosa e fiel, quando de uma visita de rotina ao meu médico, ocasião
em que conversamos um pouco sobre nossa saúde e onde, para ele, seria o
início de um calvário e de um período de uma luta desigual. Como um
soldado espartano portou-se bravamente até ao derradeiro instante. Quis o
destino que às 15.45 horas do dia 25 de setembro de 2005, seus olhos se
fechassem para sempre e seus lábios se emudecessem. Partira deste
mundo, acometido que fora por uma doença impiedosa e que não lhe dera
trégua. Seu corpo foi velado na Capela da Organização Assistencial de
Luto São Benedito, em Taubaté-SP e sepultado no dia 26 de setembro às
16.30 horas no Cemitério Municipal, no Jazigo Perpétuo da Família.
Eternas saudades. Que sua alma descanse em paz!
PROFº
GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
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