sábado, 22 de novembro de 2014

WASHINGTON RAMOS FERREIRA (76)









   UM HOMEM RIQUÍSSIMO...


Washington Ramos Ferreira nascido em Taubaté aos 07 de maio de 1927 pode ser considerado como mais um dos milhares de trabalhadores que fizeram parte da transformação industrial de nossa cidade a partir da década de 30. Filho de João Batista Ramos Ferreira e de Leonor Teixeira Ferreira compunha uma família humilde e extremamente pobre com seus irmãos Terezinha, Dirce, Genoefa, Elizabete, Renê, Pedro e Paulo. Ainda menino aos nove anos de idade, recolhia carvão em brasa descarregado pelas locomotivas da Estrada de Ferro Central do Brasil quando de suas baldeações em Taubaté, duas a três vezes por dia.


                                                                       DESEMBARQUE DE PASSAGEIROS NA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE TAUBATÉ. 


Eram as famosas e importantes composições como os Rápidos, os Expressos, os Trens Baianos e os Trens Luxuosos. Eram tempos difíceis em que os filhos saíam de suas casas à procura de algum tipo de trabalho para ajudar no sustento da família. Para tanto, Washington se utilizava de duas latas vazias de óleo tipo 18 litros, e com elas contava com o auxílio de água para resfriar o carvão e com isso, recolher o produto. Trabalhava o dia todo e ao final recebia 500 réis pelo trabalho árduo e estafante. Retornava para sua casa com as mãos calejadas e feridas com o trabalho rude a que se submetia, mas, valia a pena, pois, com essa importância era o suficiente para adquirir na Padaria São Paulo da Rua Chiquinha de Mattos, açúcar, pó de café e o alimento sagrado para toda a família, o pão nosso de cada dia.  Não frequentou bancos escolares sequenciais, tendo estudado até o 3º ano primário no Grupo Escolar Dom Pereira de Barros, localizado no prédio da Vila Santo Aleixo, na Santa Terezinha. 


GRUPO ESCOLAR DOM PEREIRA DE BARROS


Portador de uma memória privilegiada faz breve relato sobre um bar que existia dentro da Estação, de propriedade do senhor Benedicto. Era outra atividade paralela, agora como vendedor de frutas aos passageiros dos trens que ali faziam suas baldeações. Com uma bandeja sobre os ombros, ia oferecendo bananas, uvas e maçãs por mil réis dentro dos vagões, e, ao final da de cada bandeja, recebia um tostão, que somado ao ganho com a venda do carvão, iria ajudar em muito, com as despesas da casa. Em 1940, em pleno desenvolvimento da 2ª Guerra Mundial e com a gasolina racionada, passou-se a utilizar o transporte por carros movidos a gasogênio. Em razão disso as charretes passaram a ser muito requisitadas, sendo o “veículo da moda”, surgindo então uma melhor condição de trabalho para Washington quando conseguiu empregar-se como charreteiro de Antonio Castilho, pai da aviadora Joana Martins Castilho, um espanhol dono de charretes com bons animais e também proprietário de um ferro velho na Rua Anísio Ortiz Monteiro. Alguns anos depois, se empregaria como balconista na Leiteria Seleta, situada na esquina da Rua Dr. Souza Alves com Rua das Palmeiras, de propriedade de Dorvalino Soares. Mais tarde conseguiria um emprego também como balconista no famoso Café Convênio, de propriedade dos sócios Salvador Tobias e Rachid, por aproximadamente um ano.


      LEITERIA CRISTAL EM ÉPOCA NATALINA E COM WASHINGTON AO FUNDO.



Nesse estabelecimento conheceria o freguês Abraão José Moreira, proprietário da saudosa e querida Leiteria Cristal, muito querida pela população e ponto de encontro da elite taubateana, situada na esquina da Rua Duque de Caxias com Praça Dom Epaminondas. Sempre atencioso e educado, Washington despertaria a atenção de Abraão que o convidaria para trabalhar em sua Leiteria, oferecendo-lhe um ordenado compensador. Ali desempenharia a função de balconista e trabalharia por longos 17 anos, sempre com a eficiência que lhe era peculiar e aliado à sua maneira altiva de tratar a todos. Casou-se em 28 de dezembro de 1958 com Eda Saleme Ferreira com quem teve os filhos Célia, Clarisse, Leonor e Washington Filho. Como consequência lógica de suas vidas, logo passariam a compor novas famílias, seguindo a trajetória natural e inevitável do destino, tal como seus pais. Com isso, viriam os netos Anderson, Simone, Andrey e Glaydson, filhos de Clélia; Bruno, filho de Clarice; Andreza, filha de Leonor; e, Missael e Monise, filhos de Washington Filho. Por fim, a Família Ramos Ferreira seria contemplada com os nascimentos dos bisnetos Bianca, filha de Washington e Wynderson, filho de Simone. Em 1962 ingressaria no serviço público estadual, mais precisamente na Penitenciária do Estado, ali permanecendo até 1964 quando conseguiu permutar com outro colega que prestava serviços no Instituto de Reeducação de Tremembé, em razão do estado civil de ambos, sendo aquele, solteiro. Contando com 15 anos de registro em carteira profissional e 22 anos de efetivo serviço público se aposentaria em 1984. Torcedor apaixonado pelo Corinthians teria a grande alegria de sua vida naquela noite histórica do dia 13 de outubro de 1977, às 23.10 horas com seu time de coração sagrando-se Campeão Paulista daquele ano. O grande sonho de sua vida afinal, se realizara!

ZÉ MARIA, TOBIAS, MOISÉS, RUSSO, ADEMIR E WLADIMIR;
VAGUINHO, BASÍLIO, GERALDÃO, LUCIANO E ROMEU
CORINTHIANS PAULISTA DE 1977.


Cumprindo promessa que fizera, ao término da partida saiu de sua casa vestido de juiz de futebol, árbitro que era da Liga Municipal de Futebol de Taubaté, e percorreria as ruas centrais de Taubaté correndo até o retorno à sua casa, sita à Rua Dr. Pedro Costa.




 CREDENCIAL DE ÁRBITRO



COMO BANDEIRA EM TAUBATÉ


Sua esposa viria a falecer com 52 anos de idade, vitimada que fora por uma doença impiedosa e insidiosa. Desde então, tem a companhia oportuna e saudável de seus filhos, netos e bisnetos com visitas constantes. Católico e com propósitos voltados para Deus, Washington faz de seus dias a razão de viver, estendendo ao seu semelhante a compreensão, a bondade e o amor, próprios da grandeza de seu coração. E, no alto de seus oitenta e sete anos, se explica seu caráter de homem íntegro na mais pura acepção do gênero, através do qual se reveste na humildade de um monge e no mais simples dos sábios. Todo o seu saber encontra parâmetros na árvore da vida que um dia plantou, cujas raízes explicam, por si só, sua resistência. É confortante para o espírito contemplar esta bela árvore mostrada por este lenhador vigoroso, o qual em vez de a decepar, se limita a expô-la à contemplação das gerações passadas, presentes e futuras, reclamando atenção para sua solidez e respeito para sua ancianidade. Lá no alto dos céus, Washington, existe um Grande Homem, Onipotente e Onipresente que caminha com um Grande Livro, sempre atualizando suas contas. E esse contabilista, com certeza, jamais errou...


PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br 

 

                                                                                                                           

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