MÉDICO E ESCRITOR |
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Nesta
pequena introdução, deixo consignada toda minha admiração e estima ao
prezado amigo Dr. José Paulo Pereira, conceituado e honrado médico em
nossa cidade, pai e chefe de família exemplar, escritor e amigo como
poucos. E toda essa admiração reporta à década de 70, quando o conheci.
Tanto quanto ele, me considero um caipira de minha querida, maravilhosa e
eterna Cunha. À época vivíamos situações opostas, ele, recém chegado do
Rio de Janeiro onde se formara em 1968 e enfrentara situações
constrangedoras como o episódio da invasão pela polícia na Faculdade
Nacional de Medicina onde estudara, e eu, exercendo minhas funções de
policial agente fiscalizador de trânsito em Taubaté. Situações opostas
mas dentro dos parâmetros do respeito mútuo e do entendimento saudável
entre dois seres humanos. Desnecessário discorrer sobre seu sacerdócio
pela medicina, desnecessário tecer considerações quanto ao homem e
quanto ao escritor, sabidamente do conhecimento de todos. Mas, falo do
amigo, daquela pessoa sempre sorridente, sempre otimista, de bem com a
vida e procurando de uma maneira ou de outra fazer alguém feliz. Assim é
o Dr. Paulo Pereira, como é conhecido o caipira de Redenção da Serra,
nascido aos 04 de outubro de 1941 e filho de José Norberto Pereira e de
Dona Antonia de Campos Pereira. Os seus quase 73 anos constituem, na
verdade, uma extensa lição de sabedoria e de meditação. É na verdade o
amigo das letras e o amigo dos amigos. Dessa forma, como letrado que é, e
meu amigo, torno público e com sua devida autorização, parte de suas
reminiscências, para que se tornem perenes e para que as gerações
passadas, presentes e vindouras possam conhecer um pouco sobre sua vida.
O PATRONO DE MINHA TURMA
Minha
formatura, na Faculdade de Medicina, foi em 1968. Isto significa dizer
que foi cheia de ocorrências, pois, neste ano, ocorreram fatos marcantes
na história deste país e os estudantes daquela época eram participantes
ativos em todos eles. De um lado ou de outro, os estudantes se
manifestavam, indo às ruas, às passeatas, aos comícios, tornando-se
protagonistas das ações, tão importantes quanto as organizações
operárias. Para que dimensionem a extensão do clima existente, basta
saber que naquele ano aconteceu a passeata dos 100 mil e culminou com o
AI5, assinado uma semana antes da nossa colação de grau. Logo no início
do ano começaram as conjecturas para a escolha do Patrono. Havia uma
tendência de politizar esta escolha, não só pela participação natural,
de acordo com a realidade tão vibrante daquele momento, como por uma
mágoa existente desde 1966, quando a polícia invadiu a Faculdade,
quebrando tudo, batendo em todo mundo, realizando um verdadeiro massacre
dentro daquele prédio tão querido, nossa casa, nosso ninho, nosso
templo.
23 DE SETEMBRO DE 1966 - 03.45 HORAS - MADRUGADA DE HORROR.
Seria
natural que prevalecesse um espírito de contestação. E ele veio com a
resposta do nome de Che Guevara, trazido pela ala mais à esquerda da
turma. E, para susto da direção da escola, o nome de Guevara foi
crescendo assustadoramente. Parecia caso encerrado. Até aqueles que não
eram simpáticos à figura do ilustre líder pareciam interessados em dar
um pito na ditadura, em represália ao acontecido com a invasão de 1966. A
direção não poderia permitir que isto representasse uma provocação aos
militares e não podiam imaginar o que poderia ocorrer se a ideia
prosperasse. O mínimo seria o cancelamento das solenidades de formatura.
A RESPOSTA.
Tentaram
resolver o problema apresentando o nome de Albert Schweitzer que era um
grande homem, reconhecido no mundo todo pelo seu trabalho social na
África e, sem nenhuma dúvida, merecedor da homenagem. Mas, Guevara tinha
mais carisma e era muito mais atual e vivo na consciência de todos. O
mundo todo vivia um tempo de empolgação com as mudanças da esquerda e da
vitória da Revolução Cubana. Guevara tinha suas fotos estampadas em
todos os jornais e revistas e Albert Schweitzer era muito pouco
conhecido. Estava criado o impasse. A direção apavorada e os alunos
entusiasmados, pouco preocupados se a formatura fosse proibida. Valeria
da mesma forma como ação política e o acontecimento ficaria bem marcado
na história.
A VIDA PELA ÁFRICA.
A
solução veio com uma tragédia, a morte de Martin Luther King. Foi um
impacto enorme em todos, direção e alunos. Todas as atenções se voltaram
para aquele acontecimento tão significativo. Todos eram solidários ao
movimento contra a segregação racial nos EE.UU e todos admiravam Luther
King. Aproveitando este momento, alguém apresentou seu nome para o
Patrono. Foi uma jogada certeira. Luther King era Unanimidade.
TRAGÉDIA E UNANIMIDADE.
Assim
aconteceu. Acabou a discussão. Acabou o impasse. Todos foram
vitoriosos. Eu e meus colegas nos orgulhamos de ter o Patrono que
tivemos. Da mesma maneira temos certeza que qualquer dos três
pré-candidatos ficaria feliz se tivesse seu retrato num quadro de
formatura da gloriosa Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha,
no Rio de Janeiro.
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UM EVENTO QUE DEU CERTO
O VERDADEIRO CINEMA COMO NOS BONS TEMPOS.
Quando
eu era estudante, na Praia Vermelha, participava de um Cine Clube no
Diretório Acadêmico. Sempre fui muito interessado em tudo o que se
refere à sétima arte e sempre gostei de ver filmes. Depois
que os grandes palcos da cidade desapareceram, ficou um tanto sem
graça. Ir shopping não tem o mesmo charme que ir a um cinema de verdade.
Isto estava caminhando para uma frustração irremediável e eu não via
saída.
No
dia em que foi inaugurada a placa homenageando o saudoso e querido Luiz
Fernando Vasconcelos, perpetuando seu nome na Sala da APM eu estava lá
e, tendo a oportunidade de falar, solicitei ao Arnaldo, presidente
naquela época, que fizesse renascer a cinemateca que fora coordenada por
Luiz Fernando, por algum tempo. A ideia foi aceita e eu convidado para
organizar o evento. Já se passaram mais de dez anos e em todos os meses
do ano, sem nenhuma falta, houve uma sessão. Mais de cento e vinte
filmes.
Ir
à cinemateca é um "acontecimento" e há quem capriche nas vestimentas,
da mesma maneira que fazia quando ia ao cine Palas, aos sábados à noite.
Temos um grupo muito fiel, mas muito colegas já foram, permaneceram um
tempo e se afastaram, dando lugar a outros que estão sempre chegando. A
cinemateca está consolidada como uma das atividades mais prazerosas,
oferecidas aos sócios. Um fator importante é a preleção feita por
verdadeiros experts que desvendam mistérios e curiosidades sobre os
filmes apresentados, fazendo com que eles sejam vistos de uma maneira
muito mais interessante, bem diferente de quando não há estas
informações. Fica muito mais emocionante sabermos a história de um
diretor, de um ator, do próprio filme e sabermos perceber o porquê
daquela obra. Deixa de ser uma história contada e passa a ser a arte, em
alto nível.
Agradecemos
aos colegas médicos Dantas e Alexandre e ao meu amigo, não médico mas
grande parceiro, Celso Brum. Eles conhecem tudo sobre cinema e é um
prazer muito grande ouvi-los, antes do início da sessão. Dantas deixou
de comparecer, mas aguardamos sua volta com ansiedade. Enfim, colegas,
foi um evento que deu certo. Em todas as terceiras sextas-feiras de
todos os meses, estamos lá aguardando a presença de vocês. Creiam,
quando aparece um pela primeira vez, muito nos alegramos. Por isto,
sejam bem vindos.
PROFº
GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
PATRONO POR UNANIMIDADE | 21/06/2014
ResponderExcluirQuerido Gilberto, muito obrigado. O que você fez foi maravilhoso e eu me sinto muito orgulhoso. Bem feito, bem pesquisado e muito bonito. Espero merecer isto tudo. Um grande abraço.
José Paulo Pereira