segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

DR. JOSÉ PAULO PEREIRA (65)






              MÉDICO E ESCRITOR





CONSIDERAÇÕES INICIAIS


Nesta pequena introdução, deixo consignada toda minha admiração e estima ao prezado amigo Dr. José Paulo Pereira, conceituado e honrado médico em nossa cidade, pai e chefe de família exemplar, escritor e amigo como poucos. E toda essa admiração reporta à década de 70, quando o conheci. Tanto quanto ele, me considero um caipira de minha querida, maravilhosa e eterna Cunha. À época vivíamos situações opostas, ele, recém chegado do Rio de Janeiro onde se formara em 1968 e enfrentara situações constrangedoras como o episódio da invasão pela polícia na Faculdade Nacional de Medicina onde estudara, e eu, exercendo minhas funções de policial agente fiscalizador de trânsito em Taubaté. Situações opostas mas dentro dos parâmetros do respeito mútuo e do entendimento saudável entre dois seres humanos. Desnecessário discorrer sobre seu sacerdócio pela medicina, desnecessário tecer considerações quanto ao homem e quanto ao escritor, sabidamente do conhecimento de todos. Mas, falo do amigo, daquela pessoa sempre sorridente, sempre otimista, de bem com a vida e procurando de uma maneira ou de outra fazer alguém feliz. Assim é o Dr. Paulo Pereira, como é conhecido o caipira de Redenção da Serra, nascido aos 04 de outubro de 1941 e filho de José Norberto Pereira e de Dona Antonia de Campos Pereira. Os seus quase 73 anos constituem, na verdade, uma extensa lição de sabedoria e de meditação. É na verdade o amigo das letras e o amigo dos amigos. Dessa forma, como letrado que é, e meu amigo, torno público e com sua devida autorização, parte de suas reminiscências, para que se tornem perenes e para que as gerações passadas, presentes e vindouras possam conhecer um pouco sobre sua vida.
 
O PATRONO DE MINHA TURMA

Minha formatura, na Faculdade de Medicina, foi em 1968. Isto significa dizer que foi cheia de ocorrências, pois, neste ano, ocorreram fatos marcantes na história deste país e os estudantes daquela época eram participantes ativos em todos eles. De um lado ou de outro, os estudantes se manifestavam, indo às ruas, às passeatas, aos comícios, tornando-se protagonistas das ações, tão importantes quanto as organizações operárias. Para que dimensionem a extensão do clima existente, basta saber que naquele ano aconteceu a passeata dos 100 mil e culminou com o AI5, assinado uma semana antes da nossa colação de grau. Logo no início do ano começaram as conjecturas para a escolha do Patrono. Havia uma tendência de politizar esta escolha, não só pela participação natural, de acordo com a realidade tão vibrante daquele momento, como por uma mágoa existente desde 1966, quando a polícia invadiu a Faculdade, quebrando tudo, batendo em todo mundo, realizando um verdadeiro massacre dentro daquele prédio tão querido, nossa casa, nosso ninho, nosso templo.
 
23 DE SETEMBRO DE 1966  -  03.45 HORAS  -  MADRUGADA DE HORROR.
 
Seria natural que prevalecesse um espírito de contestação. E ele veio com a resposta do nome de Che Guevara, trazido pela ala mais à esquerda da turma. E, para susto da direção da escola, o nome de Guevara foi crescendo assustadoramente. Parecia caso encerrado. Até aqueles que não eram simpáticos à figura do ilustre líder pareciam interessados em dar um pito na ditadura, em represália ao acontecido com a invasão de 1966. A direção não poderia permitir que isto representasse uma provocação aos militares e não podiam imaginar o que poderia ocorrer se a ideia prosperasse. O mínimo seria o cancelamento das solenidades de formatura.
 


A RESPOSTA.

Tentaram resolver o problema apresentando o nome de Albert Schweitzer que era um grande homem, reconhecido no mundo todo pelo seu trabalho social na África e, sem nenhuma dúvida, merecedor da homenagem. Mas, Guevara tinha mais carisma e era muito mais atual e vivo na consciência de todos. O mundo todo vivia um tempo de empolgação com as mudanças da esquerda e da vitória da Revolução Cubana. Guevara tinha suas fotos estampadas em todos os jornais e revistas e Albert Schweitzer era muito pouco conhecido. Estava criado o impasse. A direção apavorada e os alunos entusiasmados, pouco preocupados se a formatura fosse proibida. Valeria da mesma forma como ação política e o acontecimento ficaria bem marcado na história. 

 
A VIDA PELA ÁFRICA.

 
A solução veio com uma tragédia, a morte de Martin Luther King. Foi um impacto enorme em todos, direção e alunos. Todas as atenções se voltaram para aquele acontecimento tão significativo. Todos eram solidários ao movimento contra a segregação racial nos EE.UU e todos admiravam Luther King. Aproveitando este momento, alguém apresentou seu nome para o Patrono. Foi uma jogada certeira. Luther King era Unanimidade.
 

TRAGÉDIA E UNANIMIDADE.

 
Assim aconteceu. Acabou a discussão. Acabou o impasse. Todos foram vitoriosos. Eu e meus colegas nos orgulhamos de ter o Patrono que tivemos. Da mesma maneira temos certeza que qualquer dos três pré-candidatos ficaria feliz se tivesse seu retrato num quadro de formatura da gloriosa Faculdade Nacional de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro.
 
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UM EVENTO QUE DEU CERTO

 
 O VERDADEIRO CINEMA COMO NOS BONS TEMPOS.

 
Quando eu era estudante, na Praia Vermelha, participava de um Cine Clube no Diretório Acadêmico. Sempre fui muito interessado em tudo o que se refere à sétima arte e sempre gostei de ver filmes. Depois que os grandes palcos da cidade desapareceram, ficou um tanto sem graça. Ir shopping não tem o mesmo charme que ir a um cinema de verdade. Isto estava caminhando para uma frustração irremediável e eu não via saída. 

No dia em que foi inaugurada a placa homenageando o saudoso e querido Luiz Fernando Vasconcelos, perpetuando seu nome na Sala da APM eu estava lá e, tendo a oportunidade de falar, solicitei ao Arnaldo, presidente naquela época, que fizesse renascer a cinemateca que fora coordenada por Luiz Fernando, por algum tempo. A ideia foi aceita e eu convidado para organizar o evento. Já se passaram mais de dez anos e em todos os meses do ano, sem nenhuma falta, houve uma sessão. Mais de cento e vinte filmes. 

Ir à cinemateca é um "acontecimento" e há quem capriche nas vestimentas, da mesma maneira que fazia quando ia ao cine Palas, aos sábados à noite. Temos um grupo muito fiel, mas muito colegas já foram, permaneceram um tempo e se afastaram, dando lugar a outros que estão sempre chegando. A cinemateca está consolidada como uma das atividades mais prazerosas, oferecidas aos sócios. Um fator importante é a preleção feita por verdadeiros experts que desvendam mistérios e curiosidades sobre os filmes apresentados, fazendo com que eles sejam vistos de uma maneira muito mais interessante, bem diferente de quando não há estas informações. Fica muito mais emocionante sabermos a história de um diretor, de um ator, do próprio filme e sabermos perceber o porquê daquela obra. Deixa de ser uma história contada e passa a ser a arte, em alto nível. 

Agradecemos aos colegas médicos Dantas e Alexandre e ao meu amigo, não médico mas grande parceiro, Celso Brum. Eles conhecem tudo sobre cinema e é um prazer muito grande ouvi-los, antes do início da sessão. Dantas deixou de comparecer, mas aguardamos sua volta com ansiedade. Enfim, colegas, foi um evento que deu certo. Em todas as terceiras sextas-feiras de todos os meses, estamos lá aguardando a presença de vocês. Creiam, quando aparece um pela primeira vez, muito nos alegramos. Por isto, sejam bem vindos.


PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. PATRONO POR UNANIMIDADE | 21/06/2014
    Querido Gilberto, muito obrigado. O que você fez foi maravilhoso e eu me sinto muito orgulhoso. Bem feito, bem pesquisado e muito bonito. Espero merecer isto tudo. Um grande abraço.
    José Paulo Pereira

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