O MAIOR DOS ÍDOLOS E ETERNO CAPITÃO.
Taubaté é um município do Estado de São Paulo e da Região
Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, distante 130 Km da Capital do
Estado, 280 Km do Rio de Janeiro, 45 Km de Campos do Jordão e a 90 Km de
Ubatuba, Litoral Norte. Segundo dados do IBGE de 2013, Taubaté contava com
296.431 habitantes. Foi o núcleo irradiador das bandeiras que penetraram nos sertões
brasileiros, tendo como consequência imediata a formação de núcleos povoadores
e o surgimento de diversas cidades fundadas por taubateanos, dentre elas,
Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei e Tiradentes, dentre outras, no Estado de
Minas Gerais, e, Campinas, no Estado de São Paulo. Também, foi o berço da
industrialização no Vale do Paraíba Paulista, tendo à frente a grandeza
empreendedora de Félix Guisard.
Como Unidades Militares estão sediadas o Comando de Aviação do
Exército e o 5º Batalhão de Polícia Militar do Interior, este, considerado a
Unidade Mães dos Batalhões de Polícia Militar do Estado de São Paulo no Vale do
Paraíba. É a Capital Nacional da Literatura Infantil, berço do escritor
Monteiro Lobato, dos apresentadores Cid Moreira e Hebe Camargo, do maestro Ivan
Paulo da Silva (Maestro Carioca), das atrizes Lia Borges de Aguiar e Simone
Soares. Muito embora os cantores Renato Teixeira, os irmãos Tony e Celly
Campello, bem como o cineasta Amácio Mazzaropi, dentre outros, não tenham
nascidos em Taubaté, aqui se radicaram e se projetaram em suas carreiras
vitoriosas, demonstrando um carinho enorme pela cidade que um dia os acolheu.
Assim também, no festivo dia 21 de abril de 1910 em que se
reverenciava o 118º aniversário da morte do herói Tiradentes, Taubaté acolheria
entre seus mais ilustres habitantes e no limiar do outono brasileiro, José
Augusto Brandão, filho de Horácio Brandão e Cidânia Brandão. Como qualquer
criança daquela geração, teve uma infância toda ela voltada para os rígidos padrões
que uma formação familiar religiosa exigia e aos estudos proporcionados pelos
bancos escolares. Todavia, viveu a plenitude de uma Taubaté bucólica e em plena
ascensão econômica com a instalação da Companhia Taubaté Industrial. Ainda
criança, mudou-se com sua família para São Paulo, onde, pouco a pouco,
ambientando-se na capital paulista, logo depois começaria a desenvolver sua
aptidão e a demonstrar toda sua habilidade e sua imensa categoria com a bola
nos pés.
Iniciando sua carreira futebolística de 1927 a 1930 no time do
Barra Funda de São Paulo, logo despertaria a atenção de outros times, como o
Juventus da Rua Javari, o “Moleque Travesso” e a “Máquina Juventina” em 1931 e
1932 e a Portuguesa de Desportos, a eterna “Lusa” em 1933 e 1934. Entretanto, o
destino lhe reservaria anos de glórias que seriam conquistados com muito
trabalho, muita perseverança e de muita lealdade, quando, em 1935 o Sport Club
Corinthians Paulista abriu-lhe definitivamente as portas para o sucesso que lhe
estava reservado. No Corinthians, clube que defenderia de 1935 a 1946,
portanto, onze anos, formaria aquela que seria reconhecida como a mais famosa
linha média em toda sua história, Jango, Brandão e Dino. Durante toda sua
trajetória no “Campeão do Centenário da Independência” e “Time do Povo”, jamais
fora expulso, bem como se tornaria o eterno Capitão da equipe do Parque São
Jorge. Sua passagem pelo Corinthians o tornaria como todos o definiam, “Mestre
Brandão”.
José Augusto Brandão casou-se ainda muito jovem em 12 de dezembro
de 1928, em São Paulo, capital, com Maria de Lourdes Brandão, advindo dessa
sagrada união, os filhos José Haroldo Brandão (1931), Maria de Lourdes Brandão
(1933), José Carlos Brandão (1936), Luiz Roberto Brandão (1946) e Maria Cecília
Brandão (1960).José Haroldo o primogênito e ainda uma criança, faleceria em
1934. Foi uma tristeza profunda e um abalo emocional muito grande para Brandão,
pois, perdera o seu “neném” querido e seu tenro “torcedor” de muitas jornadas.
Mas era preciso dar continuidade à sua vida e à carreira de jogador de futebol.
A partir de então, Maria de Lourdes, o seu anjo encantador passaria a ser o
alvo das atenções para preencher tão dolorosa lacuna, complementados depois, em
1936, com o nascimento de seu terceiro filho, José Carlos Brandão, o Inho,
derivado de um sufixo especial em relação a Brandãozinho, para os mais íntimos.
Tempos mais tarde, titular absoluto no Corinthians e seu eterno capitão,
Brandão se sagraria Tricampeão Paulista de 1937, 1938 e 1939 e Campeão Paulista
em 1941. Em 1938, em razão do grande futebol apresentado, pela raça demonstrada
nos gramados e pela grande fase que atravessava, foi convocado para a Seleção
Brasileira para disputar a Copa do Mundo na França. Brandão seria titular em
duas ocasiões, a primeira contra a Tchecoslováquia com a vitória brasileira por
2 x 1 no jogo extra, e depois contra a Suécia, com nova vitória por 4 x
2, na decisão do inédito terceiro lugar. Era a glória aos seus pés e a
consagração como jogador de futebol.
Possuidor de uma personalidade forte, Brandão esbanjava a raça
corinthiana, aliada ao futebol técnico e muito clássico, atuando sempre de
maneira leal para com os adversários. Era o centromédio da equipe e o cérebro
daquela máquina poderosa e fantástica de jogar futebol. Um fato curioso ocorreu
no Estádio Municipal do Pacaembu em 24 de maio de 1942 durante o clássico entre
Corinthians e São Paulo, quando este estreou Leônidas da Silva “O Diamante
Negro”, com um público de 70.281 pessoas, recorde atual. Nessa partida
Brandão foi encarregado de marcar Leônidas, quando o anulou durante todo o
transcorrer do jogo, que terminou empatado em 3 a 3. No dia seguinte nos quatro
cantos da capital paulista uma piada tomaria conta da cidade: - Você sabia que
Brandão do Corinthians foi preso?- Não, por quê?- Pegaram-no com um “Diamante”
no bolso! Brandão abandonaria o futebol aos 36 anos em 1946 e se
dedicaria ao comércio. Adquiriu um bar na Vila Mariana, tendo como sócio, Teleco,
seu companheiro de clube e do amigo e ex-jogador da Portuguesa de Desportos
Pascoallino. Entretanto, não foi feliz nos negócios, tendo meses depois,
dissolvida a sociedade e vendida sua parte.
Nesse mesmo ano, uma nova tragédia abateria sobre sua família, com a morte de sua filha Maria de Lourdes, em 1946. Ainda jovem, com apenas 13 anos de idade e aluna aplicadíssima de piano, fora vitimada por uma leucemia cruel e arrasadora. Outro momento difícil em sua vida, mas que também viria com uma nova alegria para superar o doloroso transe passado por todos, com o nascimento de Luiz Roberto Brandão, nesse mesmo ano. A partir de então, seria o caçula daquela família unida e feliz. Atualmente, Luiz Roberto é um competente e eficiente funcionário público estadual. É pai de Jadir, o único neto que seguiu os passos do avô, jogando por alguns clubes do Brasil e do Exterior, tendo encerrado precocemente sua carreira em virtude de uma séria lesão. Com o fim da carreira de jogador de futebol e com a frustrada carreira de comerciante, Brandão, graças a sua competência e aliada às virtudes do qual era possuidor, conseguiria ainda o emprego na Prefeitura Municipal de São Paulo, aonde veio a se aposentar. Depois, não dando trégua à ociosidade, trabalharia ainda no Sesi, também em São Paulo.
Os momentos de felicidade em sua vida familiar foram
completados com a chegada de sua última filha, Maria Cecília Brandão, em 1960,
a mais nova e definitiva caçulinha, como assim dizia para todos. A ela, como a
mais nova pérola de sua vida, dedicaria todo o amor, toda a afeição e todo o
carinho do mundo. Ao voltar para casa do trabalho trazia-lhe os doces de
abóbora e de amendoim que tanto gostava e a abraçava com enlevo e ternura. Por
ser a caçula da família e única filha, Maria Cecília significava para seu pai o
bálsamo para aquele coração sofrido. Brandão foi um marido exemplar, a extensão
da bondade como seu próprio coração e um amigo como poucos. Fora a
personificação da honradez e da probidade, características que definem um homem
voltado para a prática de todo bem.
Os grandes momentos de sua vida procurava desfrutar ao lado de
sua maior riqueza, sua família. E com ela, saborear uma gostosa leitoa que
mandava preparar especialmente para aqueles momentos mágicos. Em 1968, ocorre
o falecimento de sua esposa Maria de Lourdes, o grande e único amor de sua
vida, a companheira de todos os momentos e aquela que se encarregaria de
conduzir a nau em sua ausência como futebolista e em outras atividades. Foi uma
Níobe, ao sofrer com as lembranças de seus filhos queridos que ficaram para
trás na longa caminhada da vida. Por isso, mulheres como Maria de Lourdes,
quando sofrem com as adversidades da vida, superam a dor e ficam acima da
humanidade. Com José Carlos e Luiz Roberto casados, restara-lhe Maria Cecília,
a companheirinha de 8 anos de idade, a sua caçulinha querida e aquele anjo, a
fazer-lhe companhia. E assim se sucederam os anos seguintes. Aos 58 anos de
idade Mestre Brandão não se casaria novamente. Entendera por bem dedicar toda
sua vida à Maria Cecília, uma pérola a ser lapidada, estudando-a e secundando-a
em tudo o que fosse possível e que estivesse ao seu alcance. Por outro lado,
com o tempo passando muito rapidamente, Maria Cecília era o exemplo de filha e
a continuidade do amor que sua mãe dedicara a seu pai. Filha obediente,
prestativa, amiga de todos os momentos, um dia viria retribuir com a mesma
atenção, o mesmo carinho e a mesma ternura de outrora recebidos, àquele que,
durante muitas noites de vigília dispensava-lhe atenção e velava pela
felicidade de seu anjo querido.
Aos 77 anos e alquebrado pela idade, Mestre Brandão
apresentava os primeiros sinais de senilidade, resultantes do abatimento físico
e mental decorrentes da velhice. Mas, Maria Cecília era seu ancoradouro,
seu porto seguro, as mãos que Deus lhe oferecera para prosseguir em sua
caminhada e jornada vitoriosas. Dedicou ela, toda sua juventude, todo seu amor
e toda sua benevolência àquele que, como ela mesma afirmou, fora mais que um
pai, mais que um amigo e mais que um irmão. Fora seu sustentáculo, sua própria
vida!
A notícia de seu falecimento no dia 12 de julho de 1987, um
domingo do inverno brasileiro, tomou de surpresa a cidade de São Paulo e o
Brasil, deixando todos perplexos e consternados com seu passamento. Falecera no
Hospital Municipal do Servidor Público em São Paulo, às 14.30 horas daquele dia
fatídico. Seus olhos se fecharam e seus lábios se emudeceram. Ficaram as
lembranças do pai extremoso, do chefe de família honrado que sempre fora, do eterno
e grande Capitão Corinthiano e do primeiro jogador negro do Corinthians a ser
convocado e a jogar pela Seleção Brasileira de Futebol.
Para Taubaté, a glória de ter até a presente data, o primeiro e único jogador aqui nascido, a vestir a gloriosa camisa verde e amarela e a disputar uma Copa do Mundo, a de 1938, na França. Foi sepultado no dia 13 de julho de 1987, uma segunda feira cinzenta, no Cemitério do Araçá, em São Paulo, Capital. Seu caixão estava coberto de flores, as mesmas flores que um dia, como ninguém, ofertou em forma de carinho e amor à suas grandes paixões: sua querida família e ao seu eterno Sport Club Corinthians Paulista! Requiescat in Pace, Eterno Capitão!
PROFº
GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR.
COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br
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CONSIDERAÇÕES: “A intenção pretendida que norteou a criação deste Blog Cultural foi a de resgatar memórias históricas, póstumas ou não, de pessoas ilustres nascidas em Taubaté, ou que por aqui passaram, deixando perpetuados, aspectos significativos de suas vidas”. O Profº Gilberto da Costa Ferreira é graduado pela Universidade de Taubaté/SP com Licenciatura Plena em História. É autor dos livros "A 2ª Guerra Mundial e a Participação da FEB" e "Dois Países e Uma Vida".
sábado, 13 de dezembro de 2014
JOSÉ AUGUSTO BRANDÃO (60)
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Muitas revelações importantes para nossa história. | 06/04/2014
ResponderExcluirMuitas revelações importantes para nossa história. 06/04/2014 Parabéns prof. Gilberto, por mais essa linda e completa publicação que nos enchem de conhecimentos históricos e de uma valia imensurável. O texto deixa claro que você foi na profundeza da história, registrando detalhes que realmente não poderiam passar despercebido.Tinha conhecimento que Tatú, Zito, Zé Carlos que tiveram passagens pelo E. C. Taubaté já defenderam a Seleção brasileira, mas não sabia que o Brandão até então é o único taubateano a vestir a camisa da Seleção. O curioso é que, como você mesmo narrou, por ter ido para a capital paulista ainda criança, acabou não jogando no E. C. Taubaté. Meus cumprimentos pelo belo e completo texto.
Moacir dos Santos