sábado, 13 de dezembro de 2014

JOSÉ AUGUSTO BRANDÃO (60)














O MAIOR DOS ÍDOLOS E ETERNO CAPITÃO.



Taubaté é um município do Estado de São Paulo e da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, distante 130 Km da Capital do Estado, 280 Km do Rio de Janeiro, 45 Km de Campos do Jordão e a 90 Km de Ubatuba, Litoral Norte. Segundo dados do IBGE de 2013, Taubaté contava com 296.431 habitantes. Foi o núcleo irradiador das bandeiras que penetraram nos sertões brasileiros, tendo como consequência imediata a formação de núcleos povoadores e o surgimento de diversas cidades fundadas por taubateanos, dentre elas, Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei e Tiradentes, dentre outras, no Estado de Minas Gerais, e, Campinas, no Estado de São Paulo. Também, foi o berço da industrialização no Vale do Paraíba Paulista, tendo à frente a grandeza empreendedora de Félix Guisard.

Como Unidades Militares estão sediadas o Comando de Aviação do Exército e o 5º Batalhão de Polícia Militar do Interior, este, considerado a Unidade Mães dos Batalhões de Polícia Militar do Estado de São Paulo no Vale do Paraíba. É a Capital Nacional da Literatura Infantil, berço do escritor Monteiro Lobato, dos apresentadores Cid Moreira e Hebe Camargo, do maestro Ivan Paulo da Silva (Maestro Carioca), das atrizes Lia Borges de Aguiar e Simone Soares. Muito embora os cantores Renato Teixeira, os irmãos Tony e Celly Campello, bem como o cineasta Amácio Mazzaropi, dentre outros, não tenham nascidos em Taubaté, aqui se radicaram e se projetaram em suas carreiras vitoriosas, demonstrando um carinho enorme pela cidade que um dia os acolheu.  

Assim também, no festivo dia 21 de abril de 1910 em que se reverenciava o 118º aniversário da morte do herói Tiradentes, Taubaté acolheria entre seus mais ilustres habitantes e no limiar do outono brasileiro, José Augusto Brandão, filho de Horácio Brandão e Cidânia Brandão. Como qualquer criança daquela geração, teve uma infância toda ela voltada para os rígidos padrões que uma formação familiar religiosa exigia e aos estudos proporcionados pelos bancos escolares. Todavia, viveu a plenitude de uma Taubaté bucólica e em plena ascensão econômica com a instalação da Companhia Taubaté Industrial. Ainda criança, mudou-se com sua família para São Paulo, onde, pouco a pouco, ambientando-se na capital paulista, logo depois começaria a desenvolver sua aptidão e a demonstrar toda sua habilidade e sua imensa categoria com a bola nos pés.

Iniciando sua carreira futebolística de 1927 a 1930 no time do Barra Funda de São Paulo, logo despertaria a atenção de outros times, como o Juventus da Rua Javari, o “Moleque Travesso” e a “Máquina Juventina” em 1931 e 1932 e a Portuguesa de Desportos, a eterna “Lusa” em 1933 e 1934. Entretanto, o destino lhe reservaria anos de glórias que seriam conquistados com muito trabalho, muita perseverança e de muita lealdade, quando, em 1935 o Sport Club Corinthians Paulista abriu-lhe definitivamente as portas para o sucesso que lhe estava reservado. No Corinthians, clube que defenderia de 1935 a 1946, portanto, onze anos, formaria aquela que seria reconhecida como a mais famosa linha média em toda sua história, Jango, Brandão e Dino. Durante toda sua trajetória no “Campeão do Centenário da Independência” e “Time do Povo”, jamais fora expulso, bem como se tornaria o eterno Capitão da equipe do Parque São Jorge. Sua passagem pelo Corinthians o tornaria como todos o definiam, “Mestre Brandão”. 

José Augusto Brandão casou-se ainda muito jovem em 12 de dezembro de 1928, em São Paulo, capital, com Maria de Lourdes Brandão, advindo dessa sagrada união, os filhos José Haroldo Brandão (1931), Maria de Lourdes Brandão (1933), José Carlos Brandão (1936), Luiz Roberto Brandão (1946) e Maria Cecília Brandão (1960).José Haroldo o primogênito e ainda uma criança, faleceria em 1934. Foi uma tristeza profunda e um abalo emocional muito grande para Brandão, pois, perdera o seu “neném” querido e seu tenro “torcedor” de muitas jornadas. Mas era preciso dar continuidade à sua vida e à carreira de jogador de futebol. A partir de então, Maria de Lourdes, o seu anjo encantador passaria a ser o alvo das atenções para preencher tão dolorosa lacuna, complementados depois, em 1936, com o nascimento de seu terceiro filho, José Carlos Brandão, o Inho, derivado de um sufixo especial em relação a Brandãozinho, para os mais íntimos. Tempos mais tarde, titular absoluto no Corinthians e seu eterno capitão, Brandão se sagraria Tricampeão Paulista de 1937, 1938 e 1939 e Campeão Paulista em 1941. Em 1938, em razão do grande futebol apresentado, pela raça demonstrada nos gramados e pela grande fase que atravessava, foi convocado para a Seleção Brasileira para disputar a Copa do Mundo na França. Brandão seria titular em duas ocasiões, a primeira contra a Tchecoslováquia com a vitória brasileira por 2 x 1 no jogo extra,  e depois contra a Suécia, com nova vitória por 4 x 2, na decisão do inédito terceiro lugar. Era a glória aos seus pés e a consagração como jogador de futebol.

Possuidor de uma personalidade forte, Brandão esbanjava a raça corinthiana, aliada ao futebol técnico e muito clássico, atuando sempre de maneira leal para com os adversários. Era o centromédio da equipe e o cérebro daquela máquina poderosa e fantástica de jogar futebol. Um fato curioso ocorreu no Estádio Municipal do Pacaembu em 24 de maio de 1942 durante o clássico entre Corinthians e São Paulo, quando este estreou Leônidas da Silva “O Diamante Negro”, com um público de 70.281 pessoas, recorde atual.  Nessa partida Brandão foi encarregado de marcar Leônidas, quando o anulou durante todo o transcorrer do jogo, que terminou empatado em 3 a 3. No dia seguinte nos quatro cantos da capital paulista uma piada tomaria conta da cidade: - Você sabia que Brandão do Corinthians foi preso?- Não, por quê?- Pegaram-no com um “Diamante” no bolso! Brandão abandonaria o futebol aos 36 anos em 1946 e se dedicaria ao comércio. Adquiriu um bar na Vila Mariana, tendo como sócio, Teleco, seu companheiro de clube e do amigo e ex-jogador da Portuguesa de Desportos Pascoallino. Entretanto, não foi feliz nos negócios, tendo meses depois, dissolvida a sociedade e vendida sua parte. 

Nesse mesmo ano, uma nova tragédia abateria sobre sua família, com a morte de sua filha Maria de Lourdes, em 1946. Ainda jovem, com apenas 13 anos de idade e aluna aplicadíssima de piano, fora vitimada por uma leucemia cruel e arrasadora. Outro momento difícil em sua vida, mas que também viria com uma nova alegria para superar o doloroso transe passado por todos, com o nascimento de Luiz Roberto Brandão, nesse mesmo ano. A partir de então, seria o caçula daquela família unida e feliz. Atualmente, Luiz Roberto é um competente e eficiente funcionário público estadual. É pai de Jadir, o único neto que seguiu os passos do avô, jogando por alguns clubes do Brasil e do Exterior, tendo encerrado precocemente sua carreira em virtude de uma séria lesão. Com o fim da carreira de jogador de futebol e com a frustrada carreira de comerciante, Brandão, graças a sua competência e aliada às virtudes do qual era possuidor, conseguiria ainda o emprego na Prefeitura Municipal de São Paulo, aonde veio a se aposentar. Depois, não dando trégua à ociosidade, trabalharia ainda no Sesi, também em São Paulo.

Os momentos de felicidade em sua vida familiar foram completados com a chegada de sua última filha, Maria Cecília Brandão, em 1960, a mais nova e definitiva caçulinha, como assim dizia para todos. A ela, como a mais nova pérola de sua vida, dedicaria todo o amor, toda a afeição e todo o carinho do mundo. Ao voltar para casa do trabalho trazia-lhe os doces de abóbora e de amendoim que tanto gostava e a abraçava com enlevo e ternura. Por ser a caçula da família e única filha, Maria Cecília significava para seu pai o bálsamo para aquele coração sofrido. Brandão foi um marido exemplar, a extensão da bondade como seu próprio coração e um amigo como poucos. Fora a personificação da honradez e da probidade, características que definem um homem voltado para a prática de todo bem. 

Os grandes momentos de sua vida procurava desfrutar ao lado de sua maior riqueza, sua família. E com ela, saborear uma gostosa leitoa que mandava preparar especialmente para aqueles momentos mágicos.  Em 1968, ocorre o falecimento de sua esposa Maria de Lourdes, o grande e único amor de sua vida, a companheira de todos os momentos e aquela que se encarregaria de conduzir a nau em sua ausência como futebolista e em outras atividades. Foi uma Níobe, ao sofrer com as lembranças de seus filhos queridos que ficaram para trás na longa caminhada da vida. Por isso, mulheres como Maria de Lourdes, quando sofrem com as adversidades da vida, superam a dor e ficam acima da humanidade. Com José Carlos e Luiz Roberto casados, restara-lhe Maria Cecília, a companheirinha de 8 anos de idade, a sua caçulinha querida e aquele anjo, a fazer-lhe companhia. E assim se sucederam os anos seguintes. Aos 58 anos de idade Mestre Brandão não se casaria novamente. Entendera por bem dedicar toda sua vida à Maria Cecília, uma pérola a ser lapidada, estudando-a e secundando-a em tudo o que fosse possível e que estivesse ao seu alcance. Por outro lado, com o tempo passando muito rapidamente, Maria Cecília era o exemplo de filha e a continuidade do amor que sua mãe dedicara a seu pai. Filha obediente, prestativa, amiga de todos os momentos, um dia viria retribuir com a mesma atenção, o mesmo carinho e a mesma ternura de outrora recebidos, àquele que, durante muitas noites de vigília dispensava-lhe atenção e velava pela felicidade de seu anjo querido. 

Aos 77 anos e alquebrado pela idade, Mestre Brandão apresentava os primeiros sinais de senilidade, resultantes do abatimento físico e mental decorrentes da velhice.  Mas, Maria Cecília era seu ancoradouro, seu porto seguro, as mãos que Deus lhe oferecera para prosseguir em sua caminhada e jornada vitoriosas. Dedicou ela, toda sua juventude, todo seu amor e toda sua benevolência àquele que, como ela mesma afirmou, fora mais que um pai, mais que um amigo e mais que um irmão. Fora seu sustentáculo, sua própria vida!

A notícia de seu falecimento no dia 12 de julho de 1987, um domingo do inverno brasileiro, tomou de surpresa a cidade de São Paulo e o Brasil, deixando todos perplexos e consternados com seu passamento. Falecera no Hospital Municipal do Servidor Público em São Paulo, às 14.30 horas daquele dia fatídico. Seus olhos se fecharam e seus lábios se emudeceram. Ficaram as lembranças do pai extremoso, do chefe de família honrado que sempre fora, do eterno e grande Capitão Corinthiano e do primeiro jogador negro do Corinthians a ser convocado e a jogar pela Seleção Brasileira de Futebol. 

Para Taubaté, a glória de ter até a presente data, o primeiro e único jogador aqui nascido, a vestir a gloriosa camisa verde e amarela e a disputar uma Copa do Mundo, a de 1938, na França. Foi sepultado no dia 13 de julho de 1987, uma segunda feira cinzenta, no Cemitério do Araçá, em São Paulo, Capital. Seu caixão estava coberto de flores, as mesmas flores que um dia, como ninguém, ofertou em forma de carinho e amor à suas grandes paixões: sua querida família e ao seu eterno Sport Club Corinthians Paulista! Requiescat in Pace, Eterno Capitão!




PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Muitas revelações importantes para nossa história. | 06/04/2014
    Muitas revelações importantes para nossa história. 06/04/2014 Parabéns prof. Gilberto, por mais essa linda e completa publicação que nos enchem de conhecimentos históricos e de uma valia imensurável. O texto deixa claro que você foi na profundeza da história, registrando detalhes que realmente não poderiam passar despercebido.Tinha conhecimento que Tatú, Zito, Zé Carlos que tiveram passagens pelo E. C. Taubaté já defenderam a Seleção brasileira, mas não sabia que o Brandão até então é o único taubateano a vestir a camisa da Seleção. O curioso é que, como você mesmo narrou, por ter ido para a capital paulista ainda criança, acabou não jogando no E. C. Taubaté. Meus cumprimentos pelo belo e completo texto.
    Moacir dos Santos

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