José Luiz da Costa Ferreira, filho de Luiz José da Costa Ferreira e Clara Bittencourt Ferreira, nasceu em Ubatuba, aos 15 de março de 1916, uma quarta feira da última semana do verão brasileiro. De origem humilde, aportou-se no Vale do Paraíba Paulista no século passado, na década de 20, mais precisamente em Taubaté, juntamente com sua mãe Dona Clara Elísia (Clarinha), sua tia Dona Maria Clara (Maricota) e de seus irmãos Garcílio e Presciano. Já órfão de pai, algum tempo depois ocorre o falecimento de seu irmão, Presciano. Ainda criança, ajudava no sustento da família fazendo pequenos serviços como ajudante braçal em suas horas de folga, pois dedicava parte de seu tempo aos estudos no Grupo Escolar Dr. Lopes Chaves, em Taubaté.
Ao concluí-los, era notório e perfeitamente percebível seus pendores artísticos, interessando-se sobremaneira às artes da fotografia, da escultura e do teatro, este, mais tarde, voltado para os ventríloquos, através dos personagens Juquinha e Benedito, os quais, em companhia de seu criador, José Luiz, encantaram e entusiasmaram multidões.
OS PERSONAGENS JUQUINHA E BENEDITO
As apresentações, na maioria das vezes, tinham como palco da Sociedade Beneficente, sita à Rua XV de Novembro, nº 50, como ilustra a foto daquela época. Com o falecimento de sua mãe, Dona Clarinha, fica, a partir de então com seu irmão Garcílio, sob os cuidados de sua tia, Dona Maricota. Professora que era, tem, a partir daí, a incumbência de criá-los. Em 1936, ingressa na Força Policial, depois Força Pública e atualmente Polícia Militar do Estado de São Paulo, passando a servir no CIM (Centro de Instrução Militar) em São Paulo, e, depois, no 8º Batalhão de Caçadores, em Campinas. Na Corporação, após conclusão de curso, foi promovido à graduação de Cabo PM. Em junho de 1943, contrai matrimônio com Helena Rossener Ferreira, advindo dessa união os filhos Maria Aparecida, Nestor, Vera, Fajardo e Ademar. Em 1946, através de requerimento, solicita baixa da Força Pública do Estado de São Paulo, passando então, a exercer atividades civis, a princípio como vendedor ambulante, tendo viajado por toda a região.
Fixa residência em Ubatuba, neste Estado, e, a partir daí, envereda-se pela arte fotográfica, outra paixão de sua vida, e que iniciara em 1936 com as primeiras fotografias aéreas do nosso Litoral Norte, em Ubatuba, sendo considerado um dos precursores dessa nobre arte naquela cidade e região, arte essa em que se especializou, sempre contando com o apoio de seu grande amigo, o piloto Cunha, de tradicional família de Taubaté. Partindo do antigo campo de aviação do Aero Clube de Taubaté, onde hoje está instalada a Fábrica da Ford, ganhava os céus e registrava para a posteridade paisagens do nosso litoral paulista e brasileiro.
Possuindo laços familiares, retorna para Taubaté onde ingressa no Serviço Público Estadual, inicialmente na Secretaria Estadual do Trabalho, nesta cidade. Mais tarde, com sua extinção, foi remanejado para a Secretaria Estadual da Agricultura e prestando seus serviços na Casa da Lavoura de Taubaté, a qual ainda perdura até nossos dias. Depois, a pedido, foi transferido para a Secretaria de Segurança Pública, passando a prestar serviços na Delegacia de Polícia de Taubaté, ocupando ali as funções de Chefe do DDP (Departamento de Diversões Públicas), a qual era abrangida também pelo Setor de Identificação. Após, passou a ocupar as funções de Chefe do Serviço de Trânsito de Taubaté, cargo que ocupou até sua aposentadoria em 1978.
Na década de 30, personificou a figura do caipira "Chico Pindoba" e com ele enlevou com alegria milhares de crianças e adultos. Concomitante, abraçando com tenacidade os dons de artista trazidos consigo quando ainda criança, revela-se um escultor da melhor escol, produzindo imagens em cera, verdadeiras jóias raras, tais como Rui Barbosa, Tiradentes (diante do carrasco, momentos antes de sua execução), as cabeças de Lampião e Maria Bonita, Padre Anchieta (escrevendo os poemas à Virgem Maria nas areias da praia do Iperoig), John Kennedy, Abrahão Lincoln, O milagre de Nossa Senhora Aparecida (escravo acorrentado refugiando-se na igreja de N.S. Aparecida após ser perseguido pelo capataz da fazenda), Caril Chessmann (sentenciado à cadeira elétrica nos Estados Unidos), Papa João XXIII e Santa Filomena, dentre outros.
CARIL CHESSMANN E SEU CRIADOR. SCREVENDO NAS AREIAS DE IPEROIG.
Durante
muito tempo suas obras permaneceram expostas em um prédio situado nas
esquinas da Rua Carneiro e Souza e XV de Novembro, nesta cidade. Com
exceção das imagens religiosas, as quais foram solicitadas pela
Arquidiocese de São Paulo, as demais foram adquiridas por um empresário
grego de nome Pinter.
Notabilizou-se
por ser o único artista profissional de Taubaté a transformar as
características físicas e faciais, de maneira impecável e
fantástica, das pessoas que a ele recorriam durante os festejos
carnavalescos. Certa vez, procurado por um folião para que o
transformasse no Corcunda de Notre Dame, assim procedeu, dando-lhe
aspectos físicos idênticos vividos por aquele personagem famoso.
REPRODUZINDO NO SER HUMANO UMA ESCULTURA DE PRIMEIRA GRANDEZA
Reportando-nos à história, o Corcunda de Notre Dame era um rapaz de compleição física avantajada, porém, sofria de uma doença conhecida por cifose, além de coxo e deformado, sendo denominado por muitos como monstro. Entretanto, por ser forte, tanto poderia acionar os pesados sinos da Catedral de Notre Dame, em Paris, quanto pela sua delicadeza, acolher em suas mãos pequenos pássaros. Vivia enclausurado nos porões daquela igreja, sendo um assíduo frequentador daquele campanário.
À época, José Luiz da Costa Ferreira teve reconhecida toda sua habilidade artística ao reproduzir naquele folião, uma obra de tamanho significado em pleno século XX. Sua última grande obra, foi simbolizar e eternizar o dedo indicador do jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti, onde em seu programa, quando dos intervalos, apontava o dedo para o alto e dizia: "Nossos comerciais, por favor!". Referida obra, bem como as máquinas fotográficas encontram-se preservadas para exposições futuras.
É, do renomado artista plástico Zé Demétrio, o seguinte pensamento sobre o escultor José Luiz: "Ao mestre Zé Luiz, o grande Mago da Escultura em Ceroplastia, um grande abraço por ter sido o meu 2º Mestre. Taubaté, Vale do poluído Paraíba, 1989, Ano 50". José Luiz da Costa Ferreira faleceu no dia 04 de fevereiro de 1993 e está sepultado no Cemitério Municipal de Taubaté, no jazigo da Família Costa Ferreira, sita à Quadra 18, sepultura nº 220, atual nº 346, juntamente com sua tia-mãe Dona Maricota, seu irmão Garcílio e de sua filha Maria Aparecida. Como homenagem póstuma, através da Lei Municipal nº 4678, de 04 de julho de 2012, teve reconhecida sua prestatividade como munícipe, ao ter como agradecimento do povo taubateano, inscrito seu nome em uma das Praças de Taubaté-SP, localizada no Loteamento Vista Alegre, no Bairro do Bonfim, passando a denominar-se a atual Praça Projetada como "Praça José Luiz da Costa Ferreira - Escultor". Também, idêntica homenagem lhe foi conferida em sua cidade natal, Ubatuba, onde através da Lei nº 3105, de 19 de agosto de 2008, dá a denominação de "Praça José Luiz da Costa Ferreira - Sr. Costa, a área de lazer existente no Loteamento "Sítio Ressaca", localizada na Avenida Mero. Requiescat in pace, Grande 2º Mestre!
BONECOS FALANTES.
TODOS Á SOCIEDADE BENEFICENTE DE TAUBATÉ: A's 8,45 em ponto. Grandioso Festival Artistico para a compra do mobiliario para a séde. A Directoria desta, conta com o comparecimento de todos os Associados e Exmas. Família, e particulares não socios, para mais abrilhantar esta festa artistica.
Attenção - 1ª Parte: Cav. Faspp e seus auxiliares levarão a scena a formidável peça em 3 actos de autoria do actor Santos Junior, gentilmente presenteado para este conjunto: Um netto em apuros - Desempenhada por Zilda Rocha, Cav. Faspp e Tomanini.
Ouverture - 2ª Parte: A chistosa operetta em 1 acto do conhecido escriptor Belmiro Braga: Na Cidade. Personagem Anastacio (Tomanini); Anacleto (J. Rocha); Rufina (Zilda Rocha); Carolina (Diva Moura); Josefa (Philomena Tomanini.
Terminará o espectaculo com um bem organizado acto de variedade, destacando-se: Tomanini e J. Rocha, perfeitos imitadores, syrio e regional. Vamos ter o prazer de ouvir as gentis collegas Philomena, Diva e outras, com fino repertorio de sambas, marchas, emboladas e cateretes. Neste acto tomará parte o applaudido Ventriloco (Zezé) que promete grande surpreza para gaudio da petisada com seus indiabrados Bonecos Falantes.
Nota: O espectaculo será abrilhantado pelo afinado Jazz Band "Carlos Gomes", sob a competente direcção do prof. Chiquinho.
Preços: Entrada 1$500 - Meia entrada $700.
Rua 15 de Novembro, 50, Taubaté.
HOJE! Domingo, 21 - junho - 1936.
APLAUSOS!
MUSEU ESTÁ SENDO APLAUDIDO: Foi inaugurado anteontem, na esquina das Ruas Carneiro de Souza e XV de Novenbro, o Museu Histórico. De propriedade do artista José Luiz da Costa Ferreira, o museu apresenta vultos do passado em tamanho natural, trajados a caráter e feitos em cera. Trabalho de arte, técnica, paciência e gosto, que mereceu o aplauso do público que lá visitou a mostra. Vultos como Kennedy, Pedro de Toledo, Ruy Barbosa e Tiradentes, foram transportados para a cera, com a autenticidade própria dos artistas. Uma referência sobre a Revolução de 1932 é feita pelo artista que enfeitou o salão da mostra com jornais da época, além dos personagens de maior destaque. (Jornal A Tribuna, Taubaté, 11 de julho de 1964, Nº 3991).
UMA FAMÍLIA DE ARTISTAS.
BONECOS DE CERA: Muito pouca gente deve saber, mas Taubaté possue hoje a única fábrica de bonecos de cera do país. Ela é formada por uma família: José Luiz da Costa Ferreira, Nestor da Costa Ferreira e José Fajardo da Costa Ferreira. Lá são feitos bonecos de cera que se movimentam, alguns, cópias exatas de grandes personalidades. São perfeitos, com cabelos verdadeiros implantados, olhos de vidros, etc. A quase totalidade dos museus de cera do Brasil faz encomendas a eles. Fica na Rua Cel. Augusto Monteiro, 579. Vale a pena conferir. (Jornal A Voz do Vale do Paraíba, Taubaté, terça feira, 22 de junho de 1971, Coluna Ramalho Neto Informa).
COSTA FERREIRA E SEUS BONECOS.
O aplaudido ventriloquo Costa Ferreira, o "Comandante X", da Rádio Difusora Taubaté, está se tornando dia a dia o ídolo dos pequeninos ouvintes da ZYA8. O seu programa "A Caravela da Alegria", patrocinado pela farinha de trigo Catita do Moinho de Barra Mansa, além do aspecto humorístico que se apresenta, se reveste de um cunho nitidamente instrutivo, motivo pelo que tem agradado em cheio. Ainda ontem, no programa "Gurilândia" um bonito programa infantil daquela emissora, e que obedece à sadia orientação da profª Elba Pereira, o Comandante "X" fez um interessante quarto de hora, divertindo as crianças que enchiam literalmente os estúdios e auditorio da Difusora. Possuidor de uma verve notável, sabendo impressionar pela justeza de narração os seus pequeninos ouvintes, trabalhando com muita naturalidade, Costa Ferreira deu personalidade aos seus bonecos Juquinha e Benedicto; e podemos adiantar que dentro de algum tempo, as crianças das nossas escolas terão em Juquinha e Benedicto dois simbolos reais a lhe enfeitar a vida. E a criança achará novos motivos de beleza neste agitado século que passa. (Jornal Taubaté Country Club, ano 1941, página 4).
AS ACROBACIAS COM A BICICLETA.
Quem conta sobre as peripécias e malabarismos de Luiz José da Costa Ferreira em sua época de militar da Força Pública, é o também militar e seu companheiro de caserna, Benedito Monteiro, o "Bê Monteiro" como é popularmente conhecido, e atualmente com 100 anos de vida repleta de saúde, completados no último dia 30 de agosto de 2014. "... O Zé Luiz era um ciclista fenomenal, quando jogávamos uma moeda em linha reta e ele corria para alcançá-la e montava novamente", ou então "eu, ao lado dele, jogava uma moeda de 200 réis no chão e sem parar de pedalar pegava a moeda". Nessa época ele morava perto do Bosque, atual Praça Monsenhor Silva Barros.
O MAGO DA ESCULTURA EM CEROPLASTIA.
É do renomado artista plástico Zé Demétrio, o seguinte pensamento sobre o escultor José Luiz da Costa Ferreira: "Ao Mestre Zé Luiz, o Grande Mago da Escultura em Ceroplastia, um grande abraço por ter sido meu 2º Mestre. Taubaté, Vale do poluído Paraíba, 1989, Ano 50".
SEMANA DE ARTES PLÁSTICAS.
De autoria do Vereador Jeferson Campos, a Câmara Municipal de Taubaté aprovou e o Prefeito Municipal de Taubaté José Bernardo Ortiz Monteiro Júnior, sancionou a Lei Nº 4824, de 03 de dezembro de 2013, promulgando-a: Art. 1º - Fica instituída no Município de Taubaté, a Semana de Artes Plásticas José Luiz da Costa Ferreira a ser comemorada anualmente na segunda semana do mês de maio, de modo a ser celebrada na semana do dia 8 de maio (Dia do Artista Plástico). Parágrafo único. A semana ora instituída constará no Calendário de Eventos do Município de Taubaté. Art. 2° - As despesas com a execução desta Lei correrão por conta das dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário. Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Prefeitura Municipal de Taubaté, 03 de dezembro de 2013, 368º da elevação de Taubaté à categoria de Vila. José Bernardo Ortiz Monteiro Júnior – Prefeito Municipal. Publicada na Secretaria de Governo e Relações Institucionais, 03 de dezembro de 2013. Eduardo Cursino – Secretário de Governo e Relações Institucionais. Luciane de Oliveira Silva – Diretora do Departamento Técnico Legislativo.
DE ANALPHABETO À ARTISTA PLÁSTICO
Tendo José Luiz da Costa Ferreira nascido aos 15 de março de 1916, só poderia matricular-se regularmente aos estudos primários daquela época, a partir de 1923, quando então, completaria sete anos de idade, requisito básico exigido. Entretanto, como as matrículas se encerrassem em janeiro, isto somente seria possível no ano seguinte. José Luiz residia à Rua Mariano Moreira, nº 20, região central de Taubaté, local bem próximo de sua primeira escola, o Grupo Escolar Dr. Lopes Chaves, uma instituição de ensino muito recomendada aos padrões escolares e com diretrizes bem determinadas. Foi matriculado em 26 de janeiro de 1925, portanto aos nove anos de idade, na 1ª Classe "A", assim denominada, tendo ao final do ano letivo, sido promovido. Em 26 de janeiro de 1926 foi matriculado na mesma escola, agora na 1ª Classe "B", tendo como sua professora, Heloísa Ferreira Pinto. Ao final de 192 dias letivos obteve a aprovação com a média 9 (nove) e as seguintes notas: Leitura (oito); Linguagem (oito), Arithimética (doze); Geografia (nove); História (nove). Órfão de pai em 1921, aos cinco anos, também ficaria órfão de sua mãe em 1925. A partir de então, abandonaria seus estudos para se dedicar agora única e exclusivamente à sua família, a qual passaria a ser constituída de sua tia-mãe Maria Clara (Maricota) e seu irmão Garcílio, para continuarem na difícil caminhada da vida pela sobrevivência. Ficaram as saudosas lembranças do tempo em que, José Luiz, caminhando pela Rua Mariano Moreira com destino ao Grupo Escolar Dr. Lopes Chaves, ao atingir o ponto mais elevado daquela via pública e em confluência das Ruas Marquês do Herval com Jacques Félix, acenava para sua mãe, e esta, inspirada na oração da Ave Maria e pronunciando palavras vindas de Nossa Senhora ao seu coração, dizia: "Deus te abençoe, meu filho". Pois bem, querido primo Nestor! Com certeza, meu pai Garcílio disse ao seu pai José Luiz: "Precisamos acordar, mano! Já iniciamos o segundo quarto do século vinte".
PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA - HISTORIADOR, PESQUISADOR E ESCRITOR. COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO.
cfgilberto@yahoo.com.br